Certo dia, o diabo deu um giro pelo mundo, queria ver como os homens rezavam.
Foi rápido o seu passeio de investigação, porque a maioria já se desacostumara de rezar, e relacionar-se com Deus.
E os poucos que ainda rezavam, faziam-no tão mal que arrancavam bocejos do Pai eterno.
Já regressando para a casa, viu um camponês que gesticulava furiosamente, em seu pequeno roçado.
Curioso e intrigado, o demônio escondeu-se atrás de um arbusto, e ficou observando.
O camponês birgava com Deus, aos gritos, fazendo censuras, dizendo injúrias, soltando afrontas.
O demônio esfregava as mãos, de contente.
Súbito, um padre surgiu na estrada. Apavorado com a cena do camponês gritando com Deus, lá veio o sermão:
- Bom dia, meu filho. Que modos são estes? Você não saber, por acaso, que é pecado insultar a bondade do Criador? Curioso e estranho, esse seu modo de comunicar-se com nosso Pai.
A resposta brotou de imediato, muito diáfana e despojada:
- Claro, padre. Se brigo com Deus é porque creio Nele. Se o censuro, é porque Lhe quero bem. Se grito,é porque sei que Ele me escuta.
- Devo estar delirando – repetiu consigo mesmo o padre, enquanto se afastava.
O demônio, por sua vez, ficou muito alarmado e se arrancou, feito um foguete de fpgp. Descobrira um homem que sabia rezar.
Reflexão:
Mesmo brigando é possível amar.
Mesmo gritando é possível relacionar-se.
O bem-querer de nosso vale-de-lágrimas jamais está isento de espinhos.
Um pouco estranho, tudo isso, esse jeito de amar, de proceder, de se relacionar. Mas é nossa marca registrada na terra dos egoísmos, no planeta das limitações.
Não raro brigamos.
Exatamente porque é grande nosso bem querer aos outros do nosso lado: aquele jovem, aquela criança, aquele homem, aquela mulher.
Pessoas que a gente considera como algo sagrado e não como objeto qualquer.
O timbre da voz, alterado, no fundo não é desamor. Não chega a ser crime ou castigo, é apenas bem querer amarrotado mas sem veneno maior.
Gritamos, num gesto amigo, naquele jeito meio criança de quem, medroso, assustado, porejando insegurança, treme e receia perder. Apenas isso.
Nada mais: amor mal embalado um pouco ruidoso demais, mas existem coração que orem em suaves preces.
Existem pais e filhos que se comunicam maravilhosamente. Existem almas vitoriosas já nos últimos degraus da intimidade com Deus.
A oração é a respiração da alma. Todo desejo de que Deus venha até nós já é oração.
Há uma oração interior que nunca se cala: teu desejo.
Se tu queres orar sem cessar, não cesses nunca de DESEJAR.
segunda-feira, 3 de maio de 2010
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