quarta-feira, 25 de abril de 2012

Conquista da Ipseidade




A criança na sua infância é eminentemente reativa. Reage aos estímulos que recebe. Se o estímulo é considerado por ela como bom, ela se deleita; se, ao contrário, percebe como desagradável sua reação será de repulsa e afastamento. As memórias que ficam nela são aquelas que passarem por suas emoções, pois não tem ainda capacidade para avaliar os fatos e experiências em nível nacional. É nos primeiro anos, que a criança vai aprendendo a distinguir-se dos objetos e percebendo-se diferente, vai formando um conceito de si. Podemos dizer que ela vai desenhando a pessoa adulta que será. Sua identidade pessoal se assentará sobre o conceito de si.

Um fator determinante nesse processo será aquele ligado a sai experiência afetiva/emocional. Desenvolver um conceito de si está ligado a sai capacidade de percepção e leitura que faz afetivamente do ambiente que a cerca. Significa dizer em outras palavras, que é neste início da vida, que a criança está delineando seu futuro enquanto pessoa humana. Nem sempre os pais estão atentos e conscientes da importância desse momento e daquilo que representam enquanto referenciais para seus filhos. Pois eles, pela proximidade e intimidade que gozam junto a eles, são os primeiros modelos onde a criança se espelha para imaginar e desejar como quer ser. Embora não se possa dizer que os primeiros anos determinem tudo aquilo que a pessoa será no futuro, contudo a experiência tem demonstrado que também não se pode menosprezar os primeiros anos como se eles fossem somenos importância para o desenvolvimento sadio da criança.

Há muito adulto buscando gratificações infantis na tentativa de recuperar o que não teve e se desajusta em relação ao presente porque não consegue vivê-lo como parte integrada consigo mesmo, porque não elaborou dentro dele um conceito de si adequado para o adulto que deveria ser. Descontente com o que é regride em suas atitudes à infância mal vivida e se perde no emaranhado dos anos sem saber distinguir o que é próprio da criança e o que pertence ao adulto. Assim perdido em sua ipseidade vive inconscientemente buscando o que não viveu ou viveu de modo desfavorável. Neurótico nas relações com os outros, confuso consigo mesmo, vive a vida com desprazer, como um fardo a ser carregado a duras penas enquanto a morte não chegar.


Se o acima dito faz sentido, então é hora de rever sua vida onde ela se fixou, para viver melhor os dias que ainda lhe restam. Ninguém está determinado pelo destino, mas se não levarmos em conta o que fizemos de nossa infância, corremos o risco de nunca sair dela, mesmo com voz grossa e corpo de atleta!

Padre Deolino Pedro Baldissera, SDS – psicólogo e professor.

Palavra de fé: “Jesus crescia em estatura, em sabedoria e graça, diante de Deus e dos homens” (Lucas 2,52)

terça-feira, 24 de abril de 2012

Podemos abraças pessoas leprosas?





Em muitos países da Ásia e da África, ainda hoje as pessoas leprosas são discriminadas pela população. Há lugares em que são presas em campos de confinamento, isolados por cercas de arame.
Num desses campos, entrou Raoul Follereau, o grande amigo e protetor dos leprosos. Ele sabia que a lepra é pouco contagiante.
O diretor do estabelecimento acompanhou Raoul e sua esposa pelo campo. Uma leprosa chamada Stella foi-lhe apresentada como sendo um caso muito interessante. Raoul estendeu-lhe a mão. Mas rapidamente, Stella escondeu suas mãos atrás das costas. “É proibido!”, disse ela.
O diretor ficou envergonhado, mas Raoul disse: “Também é proibido abraças leprosos?”. Embaraçado, o diretor respondeu: “Este caso não está previsto em nossos regulamentos”. “Portanto é permitido”, disse Raoul. E, ternamente, abraçou a mulher doente.
Vendo aquilo, todos os leprosos quiseram abraçá-lo. E Raoul Follereau repetia a todos: “Eu não sou médico, não posso curá-los. Só posso amá-los, pois vocês também são filhos e filhas de Deus”.
Raoul viajou mais de um milhão de quilômetros para visitar leprosos de todo o mundo e para ajudá-los. Sozinho, porém, sem sua mulher, não teria conseguido.
Por ocasião de suas bodas de ouro, disse: “A maior felicidade de minha vida é minha mulher. Nunca viajei sem ela. Minha mulher acompanhou-me em todos os campos de leprosos. Se eu fosse sozinho, os leprosos teriam dito: “Aí vem um funcionário, um curioso ou um intrometido!”. Não, eles viam sempre chegar um casal com as mãos estendidas. Minha mulher logo se interessava pelas crianças. As mães sorriam e os maridos, quando viam suas mulheres sorrindo, também se aproximavam.
“Devemos amar o próximo porque ele é também humano e filho de Deus!”.

Do livro: Aprendendo com a vida, Pierre Lefévre.


Palavra de fé: “Eis que, um leproso aproximou-se e prostou-se diante Dele dizendo: “Senhor, se queres, podes curar-me”. Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse: “Eu quero, sê curado”. No mesmo instante, a lepra desapareceu”. (Mateus 8,2-3)

segunda-feira, 23 de abril de 2012

As três coisas mais importantes





Três coisas não retornam:
O tempo.
As palavras.
As oportunidades.

Três coisas que podem nos destruir:
O ira.
O orgulho.
A inclemência.

Três coisas que nunca devemos perder:
A paz.
A esperança.
A honestidade.

As três coisas de maior valor:
O amor.
A bondade.
A família.

Três coisas que não são seguras.
O êxito material.
A fortuna.
Os sonhos.

Três coisas que formam o caráter:
A sinceridade.
O compromisso.
O trabalho árduo.

As três coisas que elevam a alma:
Confiança em Deus.
Hábito da oração.
Vivência cristã.


Palavra de fé: “A vossa bondade e misericórdia hão de seguir-me por todos os dias da minha vida. E habitarei na casa do Senhor por longos dias”. (Salmo 22/23,6)

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Priorizar o amor físico ao espiritual




Ninguém ignora que o amor, oriundo da atração física, é também um sustentáculo do casal, pois é imperativo específico do casamento. O que faz duas pessoas de sexo diferente tornarem-se um casal é precisamente a atração física, evoluída em amor físico. Por que Francisco de Sales e Joana de Chantal não se tornaram um casal? Porque entre eles não havia amor físico, não havia atração física.

O amor físico é importante no casamento. Mas como todos nós conhecemos as limitações, as flutuações, a precariedade do amor físico, se não colocarmos o amor espiritual antes dele e na base dele, o casal terminará rolando no abismo.

Esta é outra causa freqüentíssima da crise conjugal: dar prioridade ao amor físico sobre o amor espiritual. Este erro tanto pode ser encontrado no homem como na mulher. Não somente no homem, segundo julgam alguns. Sem o amor espiritual, que é o cimento, o concreto armado da estabilidade emocional, dificilmente um casal consegue entrosamento durável. E se consegue, raramente perdura.

Aquilo é um meteoro. O que murcha, o que flutua, não pode sustentar duradouramente nada. Sobretudo quando a impiedosa concorrência de produtos mais frescos põe em perigo a mercadoria da casa. Hoje basta passar de carro na frente de alguns colégios, e ele ou ela encontram, de graça, o que procuram na rua, para desgraça de ambos. Evidente. Se o que eu mais valorizo é o corpo, claro que seguirei qualquer corpo que me atraia, mas o corpo do meu parceiro. Entre o jovem atleta e o quarentão, quem leva vantagem no olhar biológico é o jovem atleta. Haja pílulas, então. Haja inferno.

A experiência tem mostrado que só evitam esta crise ou saem dela aqueles que põem o amor espiritual como coroamento do amor carnal. A cópula jamais pode tornar-se a cúpula de nenhum casal. Nem o alicerce. Por causa da dimensão extra biológica, específica do ser humano. Cada vez que esta dimensão não é atendida, não é alimentada, não é respeitada, o casal reduz-se a um par de seres meramente biológicos. Como poderão enfrentar os complexos e problemas de uma vida a dois, cujo objetivo é proporcionar o crescimento integral de ambos, crescimento em todos os níveis? Como? São esses os casais que cometem o erro de confundir conjugal com sexual.


Do livro: Não basta ter amor para ser feliz no casamento, de João Mohama.


Palavra de fé: “Assim os maridos devem amar as suas mulheres, como seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo”. (Efésios 5,28)


Qual a sua resposta a estas perguntas?
- És feliz?
- Por quê?
- Como cristãos quais as provas que damos à Comunidade que vivemos?

Medite e responda a si mesmo!

Eis as minhas respostas:
Diz o dicionário que “feliz” significa: abençoado, próspero, contente, satisfeito; aquele que anuncia coisas boas; que transmite esperança e felicidade.
Por tudo isso, sinto-me feliz, pois sou filho de Deus e que foi Ele quem escolher os meus pais aqui na terra, eu não tive escolha, mas tenha certeza que Deus escolheu muito bem.

Pense! Durante nove meses (mais ou menos), com a bênção de Deus fui formado no ventre de minha mãe e eles, minha mãe e meu pai, já me amavam e por mim se sacrificavam sem saberem como eu seria.

Sou feliz, pois agradeço a Deus a escolha do lar para a minha chegada a este mundo. Lar humilde e pobre, mas cheio de amor. Obrigado, Senhor!

Sou feliz, pelos sinais visíveis em mim:
- o sinal de Deus: minha própria vida;
- o de minha mãe: meu umbigo, pedaço do seu cordão umbilical.
Vejam: “Salmo 26/27,10”.

Por quê?
Porque a felicidade verdadeira não está naquele que tem dinheiro ou riquezas, mas sim naquele que é amado. E crê que Deus nos ama independentemente de que o amemos. Feliz é todo aquele que sempre está predisposto a fazer feliz os outros. Dar sem esperar retribuição, leiam: “Atos dos Apóstolos 20,35”. Precisamos nos convencer que só o amor nos faz feliz. Comprove: “3 João 11”. Deus quer um mundo cheio de amor. A família é o principal lugar do amor.

Como cristãos quais as provas que damos à Comunidade que vivemos?
A prova principal é o testemunho da nossa própria vida, o nosso modo de agir, sempre buscando a salvação e a vida eterna. Vejamos: “Lucas 9,24”.

A comunidade é o local para o exercício do amor fraterno, deixarmos o Espírito Santo agir em nós para ajudarmos os irmãos a encontrar Jesus, consolo e felicidade (acolher todos com amor). E o lugar para exercitarmos o amor ao próximo e assim, revelarmos através do amor ao irmão o nosso amor a Deus. Medite: “Lucas 25,35-46”. E ainda: “João 13,35”,

Ninguém pode dizer que é cristão, se não tiver amor no coração. O verdadeiro cristão deve conhecer a Palavra de Deus e proclamar e estimular os ensinamentos de Cristo. Amor atrai amor e o nosso amor a Deus tem sua “prova de fogo” no amor dedicado aos irmãos. Observe: “1 Coríntios 16,14”. Caridade (sinônimo de amor) se ensina pelo exemplo vivo: “Efésios 5,2”.


Palavra de fé: “Feliz aquele cuja alma não está triste e que não está privado de esperança!”. (Eclesiástico 14,2)


segunda-feira, 16 de abril de 2012

Você sabia?




- “Ação litúrgica” significa: uma obra a serviço de Cristo; também uma boa ação; um trabalho da Igreja. Implica uma participação consciente, ativa e frutuosa.

- Advento: palavra de origem pagã que significa “vinda, chegada”.

- Anáfora: parte da Liturgia Eucarística, rezada ou cantada pelo sacerdote na missa, que inicia com o Prefácio e vai até o Pai Nosso. Palavra grega que quer dizer: “levar para o alto” ou “elevar” os dons eucarísticos para oferecê-los a Deus.

- Cânon na liturgia e a grande oração eucarística (anáfora) da missa, que se inicia com o Santo e vai até o Pai Nosso e tem seu ponto culminante na “Consagração dos dons”.

- Catecumenato: período de mais ou menos três anos que, na Igreja Primitiva, Século II ao VII, se exigia como preparação ao Batismo. Esta preparação concluía-se na noite da Páscoa com o Batismo e a Eucaristia.

- Catecúmenos: pessoas adultas que se preparam com a catequese para receber o Sacramento do Batismo.

- Diácono: palavra grega que quer dizer: “o que presta serviço, o servidor”.

- Dexologia: palavra grega que significa “louvar”. Conclusão de uma oração ou ensinamento que resume o que foi dito.

- Homilia: vem do grego e quer dizer: “conversa familiar” ou explicação.

- A cruz não é um castigo. A cruz é um grão de trigo que morre para frutificar.

- “Comunhão dos Santos” é uma expressão antiga da literatura cristã, que pode ser entendida de suas maneiras:

  1. Comunhão ou solidariedade entre fiéis;
  2. Comunhão com as coisas santas ou com o tesouro dos méritos de Cristo, que são aplicados aos fiéis pelos sacramentos.

- Que em “Efésios 6,11-17”, São Paulo fala das armas de defesa e de ataque para os cristãos?

- Que a palavra de Deus e comparada a espada, possui também dois gumes: escrita e oral “Hebreus 4,12”?


Palavra de fé: “Toda a sabedoria vem do Senhor Deus, ela sempre esteve com Ele. Ela existe antes de todos os séculos”. (Eclesiástico 1,1)

O velho que atrapalhava tudo




G. I. Gurdjeff foi uma das mais intrigantes personalidades deste século. Bastante conhecido nos círculos que estudam ocultismo, é ainda ignorado como um importante estudioso da psicologia humana. A história a seguir passa-se quando ele, já morando em Paris, criou seu famoso Instituto para o desenvolvimento do homem.

As aulas eram sempre bem concorridas. Mas entre os alunos, havia um velho – sempre de mau humor – que não parava de criticar o que ali era ensinado. Dizia que Gurdjeff era um charlatão, seus métodos não tinham qualquer base científica, e o fato de considerar-se um “mago” nada tinha a ver com sua verdadeira condição. Os alunos sentiam-se importunados pela presença daquele velho, mas Gurdjeff parecia não se importar.

Um belo dia, ele abandonou o grupo. Todos sentiram-se aliviados, achando que dali por diante as aulas seriam mais tranquilas e produtivas. Para surpresa dos alunos, porém, Gurdjeff foi até a casa do homem, e pediu para que voltasse a frequentar o Instituto.

O velho recusou-se no início, e só aceitou quando lhe foi oferecido um salário para assistir as aulas.

A história logo espalhou-se. Os estudantes, revoltados, queriam saber como um mestre podia recompensar alguém que não tinha aprendido coisa alguma.

“Na verdade, eu o estou pagando para que continue a dar suas aulas”, foi a resposta.

“Como?”, insistiram os alunos. “Tudo que ele faz vai totalmente contra aquilo que o senhor nos está ensinando!”

“Exatamente”, comentou Gurdjeff. “Sem ele por perto, vocês custariam muito a aprender o que é raiva, intolerância, impaciência, falta de compaixão. Entretanto, com este velho servindo de exemplo vivo, mostrando que tais sentimentos tornam a vida de qualquer comunidade um inferno, o aprendizado é muito mais rápido. Vocês me pagam para aprender a viver em harmonia, e eu contratei este homem para ajudar a ensiná-los – pelo caminho oposto”.


Paulo Coelho


Palavra de fé: “Vai para tua casa, junto dos teus e anuncia-lhes tudo que o Senhor fez por ti, e como se compadeceu de ti”. (Marcos 5,19)

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Qual a minha vocação?




Perguntar-se sobre a vocação, é perguntar-se sobre si, sobre a própria vida. É o mesmo que se questionar sobre o sentido da vida, ou que direção dar a ela. Aqui se pode perceber que se trata de algo mais do que eu quero fazer, trata-se do que eu quero ser, do que quero ser de verdade e de como quero viver a vida que recebi. Enfim, essa pergunta trata daquilo que me move, a partir de dentro, a fazer ou deixar de fazer algo. É isso que quer saber o jovem e a jovem que se indaga sobre a própria vocação.

Para as coisas mais fundamentais da nossa vida, para aquilo que para nós é a mais importante não existem respostas prontas nem receitas mágicas. Existe, isso sim, um caminho a percorrer, com dicas e indicações dadas pela própria Igreja, que na sua longa experiência, percebeu que eram boas e as propõe para quem está disposto a caminhar.

Por isso, se quisermos conhecer nossas inspirações mais profundas, os porquês de nossa vida e aquilo que nos move a partir de dentro (nossas motivações), se nós quisermos realmente conhecer nossa vocação pessoal, então devemos iniciar um processo de discernimento vocacional. E justamente por ser um processo, o discernimento vocacional não acontece do dia para noite (como gostaria a nossa geração que quer tudo para ontem), mas é um caminho a ser trilhado até se chegar a uma decisão livre, firme e apaixonada por Cristo e seu projeto. Essa decisão é fruto de nossa fé e de nossa liberdade e não de um sentimentalismo eufórico (fogo de palha) que some do mesmo jeito que chegou.

Esse processo, ou caminhada, como preferimos, inclui três elementos essenciais, aos quais temos que necessariamente estar ligados:

- uma sincera amizade e um intenso relacionamento com Deus, porque é Ele quem chama;
- o conhecimento e aceitação de si mesmo, dos próprios gostos, preferências, desejos, aspirações, sonhos, tendências, limites, defeitos e qualidades; e
- o conhecimento e aceitação do mundo à nossa volta, este mundo do qual fazem parte as outras pessoas com as quais dividimos a aventura da vida; as realidades sociais, políticas, econômicas e culturais do nosso tempo e contexto; bem como as diversas possibilidades oferecidas: estilos de vida, profissões, carreiras.

É dentro destas realidades, às quais estamos ligados e com as quais nos relacionamos, isto é, com Deus, conosco mesmos, com os outros e com o mundo, que se pode e se deve fazer um bom discernimento vocacional.

Mas o que significa discernir? Discernir é a capacidade de conhecer com clareza, de perceber a diferença entre as coisas. Em uma expressão popular, quem sabe discernir “não compra gato por lebre”. Discernir a vocação é, pois, a capacidade de conhecer com clareza qual a minha vocação e perceber em que sou diferente dos outros, ou seja, quem sou eu.

A pessoas humana, criada à imagem e semelhança de Deus, é liberdade e mistério, por isso, só podemos começar esse trabalho de discernimento a partir do Espírito Santo, espírito de verdade e de luz, de sabedoria e discernimento, que sempre age na comunidade, iluminando, provocando, tirando do comodismo, pondo-nos a caminho.

Podemos já perceber duas dicas muito importantes para quem quer discernir, conhecer com clareza, o próprio chamado:

- a presença do Espírito Santo, que é força, coragem, consolo, fogo, amor, luz...
- a pertença a uma comunidade, primeiramente à família, mas também à Igreja, lugar onde Deus chama, onde se aprende a ser irmão e se coloca a vida a serviço de todos.


Frei Rodrigo Moraes


Palavra de fé: “A cada um é dada a manifestação do Espírito para proveito comum”. (1 Corintios 12,7).

Dentro do coração!




Disse Jesus: “Mateus 23,4-6”.

Este mês em que celebramos a paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo, me fez lembrar o coronel Zé Lima. Ele não faltava nas missas, nem perdia a oração do rosário nas quartas-feiras, junto com os colonos de sua fazenda, no entanto, pouco se preocupava com a partilha e salários justos.

Certa vez, arrematou em um leilão de antiguidades, um caríssimo crucifixo, todos construído em ouro branco e cravejado com brilhantes. No mesmo intante dependurou-o no peito e, orgulhosamente, exibia sua jóia na região.

Meses depois, surgiram em seu peito marcas semelhantes a queimaduras. O médico diagnosticou reação alérgica e recomendou-lhe não mais usar a jóia.

Diante da notícia, quase sem perceber, deixou escapar seu lamento: “Ah não, doutor, sem meu Jesus eu não posso viver. Não consigo m imaginar sem meu crucifixo no peito!”.

Na tentativa de acalmá-lo, o médico sugeriu substituí-lo por um crucifixo de madeira. Sua reação foi a menos esperada. Sentindo-se ofendido com a proposta, respondeu indignado: “Imagine, doutor! Acha mesmo que eu iria pendurar em meu peito esse objeto barato e sem nenhum valor?”.

O médico então, aparentemente um bom cristão, disse-lhe: “A cruz de Jesus não era cravejada de brilhantes e, segundo me consta, nem mesmo de madeira nobre ela foi confeccionada. Jesus não quer estar do lado de fora de seu peito. Quer sim estar no seu interior, dentro do seu coração!”.

Diante do olhar espantado de seu cliente, o médico continuou: “A cruz é o passaporte para a glória! Jesus disse que quem quiser a salvação deve tomar a sua cruz e segui-lo. Ele carregou sua cruz sem esmorecer, para deixar claro que o lugar da cruz não é exatamente no pescoço, mas sim sobre os ombros. Por tudo isso, quem quiser atingir a plenitude da vida tem que transportá-la com dignidade e com amor. Lembre-se de que a glória eterna passa pelo calvário, passa pela cruz. Ela é o símbolo do cristão comprometido com a paz e com a justiça. Jesus fez de sua cruz uma escada para aproximar-se do Pai. A cruz é a ponte que liga a terra do céu, é o corrimão que dá segurança na subida e que não permite a queda, nem mesmo dos cambaleantes e cansados”.


Jorge Lorente


Palavra de fé: “Eu, porém, volto meus olhos para op Senhor, ponho minha esperança no Deus de minha salvação”. (Miquéias 7,7)

Osteoartrose




A Osteoartrose é uma doença degenerativa das articulações, sendo a principal entre as doenças reumatológicas, popularmente chamadas de “Reumatismos” e a mais comum entre indivíduos de meia idade e idosos, chegando a atingir 50% das pessoas com mais de 50 anos e 80% acima dos 75 anos. Essa doença caracteriza-se pelo desgaste da cartilagem articular, provocando alterações ósseas, conhecidas popularmente como “bicos de papagaio”.

É mais comum no sexo feminino e as articulações mais comumente comprometidas são as das mãos, coluna vertebral, quadris e joelhos. Os sintomas começam com dor e limitação dos movimentos nos locais acometidos e aos poucos começam a aparecer inchaço e deformidades que preocupam muito os pacientes e seus familiares.

O tratamento envolve além do uso de medicamentos, a prática de atividades físicas para fortalecimento da musculatura próxima às articulações, aliviando assim a rigidez e a dor articular. Manter a atividade funcional de uma articulação praticando exercícios físicos é fundamental para a saúde, pois a inatividade excessiva é extremamente prejudicial. Antes de desenvolver qualquer tipo de atividade física é preciso que a pessoa – em especial aquelas com histórico familiar de osteoartrose – receba uma avaliação da condição de saúde de suas articulações.

Indivíduos que apresentam fraqueza muscular, anormalidades neurológicas ou algum tipo de deformidade nas articulações devem evitar exercícios excessivos que sobrecarreguem os membros, prevenindo assim o desenvolvimento ou avanço da doença. Exercícios de baixo impacto como natação e hidroginástica geralmente são os mais recomendados aos pacientes.

No caso da osteoartrose de joelho, o fortalecimento da musculatura anterior da coxa é essencial. Os exercícios que favorecem a postura também são bem-vindos. De qualquer forma, o acompanhamento médico e a execução correta dos movimentos durante os exercícios são fundamentais.

Deve-se também promover a redução de peso, o que melhora muito a dor e a limitação dos movimentos principalmente nas artroses de coluna vertebral, quadris e joelhos. A simples redução de 5% do peso diminui em mais ou menos 50% a chance de se desenvolver artrose sintomática de joelhos.

A Fisioterapia também é muito importante, tanto no alívio direto da dor, com o uso de aplicações de calor e frio nos locais (o calor aumenta o limiar da dor e produz relaxamento muscular e o frio diminui o edema e o espasmo muscular), como para melhorar a funcionalidade, diminuir a incapacidade e proteger as articulações.


Dr. Milton Crenitte, médico formado pela UMC com atualização e, Geriatria pelo Hospital das Clínicas da FMUSP.


Palavra de fé: “Mais vale um pobre sadio e vigoroso, que um rico enfraquecido e atacado de doenças”. (Eclesiástico 30,14)

segunda-feira, 9 de abril de 2012

O livre arbítrio é também necessário. O querer e o poder nas boas obras.




Evitando que alguém conclua que o ser humano nada pode fazer por sua vontade livre, o Salmo 94/95,8, nos diz: “Não endureçais os vossos corações”. E o próprio Ezequiel aconselha: “Ezequiel 18,31-32”, leia e confira!


Lembremo-nos do que Ele diz: "Convertei-vos e vivei ao que dizemos: Restaura-nos, ó Deus". (Salmo 79/80 e Salmo 84/85,5)

Lembremo-nos que Ele diz: “Lançai para longe de vós todas as vossas prevaricações (más ações, pecados, etc); pois é ele que justifica o ímpio (incrédulo, sem fé, herege, etc). Lembremo-nos de que aquele diz: “Fazei-vos um coração novo e um espírito novo”, também diz: “Dar-vos-ei um coração novo e porei um novo Espírito no meio de vós”. Como pode dizer: “Fazei-vos” o mesmo que diz: “Dar-vos-ei”? Por que manda, se ele vai outorgar (conceder)? Por que dá, se o homem há de fazer? Não será porque ele dá o que manda, visto que ajuda a fazer o que manda?

A nossa vontade é sempre livre, mas não é sempre boa. Ou é livre da justiça, quando se sujeita ao pecado, e então e má, ou é livre do pecado quando serve à justiça, e nesse caso é boa. A graça de Deus, porém, é sempre bia e faz com que tenha boa vontade quem antes tinha má. Com seu auxílio, a vontade que começou a ser boa, cresce em tanta bondade que chega a cumprir os mandamentos divinos que quiser, quando o desejas com decisão. Vem a propósito: “Eclesiástico 15,16”, comprove!

Aquele que quiser e não puder, reconheça que ainda não quer plenamente, e assim reze para ter boa vontade suficiente para cumprir os mandamentos. Desse modo, recebe ajuda para fazer o preceituado (os ensinamentos, mandamentos). É útil o querer, quando podemos; é útil o poder quando queremos. O que adianta querermos o que não podemos ou não querermos o que podemos?

Do livro: A Graça II, de Santo Agostinho.


Palavra de fé: “Um único homem sensato fará povoar a pátria, enquanto que um país de mais torna-se-á um deserto”. (Eclesiástico 16,5)

Precisa-se de Evangelizadores



A missão do verdadeiro cristão é participar, em comunidade do projeto de evangelização do povo de Deus. E a missão é anunciar e realizar. Não basta falar e dar sugestões, é preciso, como no exemplo de Jesus, mostrar sinais em obras que evidenciam a nossa disponibilidade para servir o próximo e aproximá-la de Deus. O próprio Jesus nos dá exemplo: “Mateus 9,35”. Leia e comprove!

A missão da Igreja é, fundamentalmente, evangelizadora e um chamado à participação na comunhão trinitária, como nos fala Jesus Cristo em “Mateus 25,18-20”, confira na Bíblia Sagrada. Evangelizar é, acima de tudo, dar testemunho, de maneira simples e amorosa, de Deus revelado por Jesus no Espírito Santo.

A evangelização deve priorizar:
- a proclamação da Boa Nova e a caridade;
- a catequese bíblica; e
- a celebração litúrgica.

Que todos os cristãos batizados se unam, entre si, em espírito de verdadeiro amor fraterno (vejam “Mateus 18,19-20”), para que a fé na missão de Jesus Cristo possa nos envolver e contagiar a segui-lo em comunhão. Medite e reflita na sua oração de súplicas em que implora ao Pai pela união de todos os que crêem: “João 17,21”.
A unidade em comunidade leva à perfeição, isto é, a presença de Deus em verdade e real entre nós. Evangelizar é retribuir a Deus, na pessoa do nosso irmão, tudo que Dele recebemos e aprendemos, é a retribuição do seu grande amor por nós.

“A essência do Cristianismo é a união e o encontro com todos os membros dispersos da humanidade” (Joseph Ratzinger – Papa Bento XVI. O Novo Povo de Deus, página 102).

A mais divina de todas as obras é cooperar com Deus na salvação de almas. Jesus Cristo deixa bem claro: “Lucas 10,2”. Colheita é o imenso campo dos homens que esperam pela Palavra de Deus.

Palavra de fé: “Como crianças recém nascidas desejais com andor o leite espiritual que vos fará crescer para a salvação, se é que tendes saboreado quão suave é o Senhor”. (1 Pedro 2,2-3)

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Uma vida pela Igreja

Disse Jesus: “João 10, 11-12”

O verdadeiro líder é um pastor que ama gratuitamente.

Com a aproximação do inverno, os índios foram perguntar ao cacique se naquele ano o inverno seria rigoroso.

O chefe, despreparado, pois não havia se preocupado em aprender com seus ancestrais os segredos da meteorologia, procurou logo encontrar uma resposta. Porém, como chefe de grupo, não queria mostrar insegurança ou dúvida. Para disfarçar, olhou para o céu, estendeu as mãos para sentir o rigor de vento e em tom firme, demonstrando muita convicção, disse: “Teremos um inverso muito frio. É bom nos prepararmos para enfrentá-lo. Por isso, quero ver toda tribo recolhendo e armazenando lenha”.

Dias depois, preocupado com sua resposta, procurou informar-se no serviço de meteorologia e teve a confirmação de que o inverno seria mesmo muito rigoroso. Sentindo-se mais seguro, dirigiu-se ao seu povo novamente. “É um frio muito forte. Recolham todos os gravetos que encontrarem”. Diariamente ligava para se informar e, a cada resposta positiva, ordenava que recolhessem mais lenha.

Uma semana depois, ainda não satisfeito, ligou novamente e questionou: “Baseados em que vocês têm tanta certeza de que teremos um frio intenso?”.

“Simples – foi a resposta – estamos tendo uma demonstração claríssima do rigor do próximo inverno, pois os índios, tradicionais conhecedores de tempo e temperatura, estão recolhendo muita lenha neste ano”.

Esta antiga lenda deverá ajudar-nos a refletir sobre a grande responsabilidade do líder comunitário. Ao assumir a direção de uma pastoral, o coordenador assume também a função do bom pastor. O verdadeiro líder é um pastor que ama gratuitamente, que fala com mansidão, que conduz suas “ovelhas” por caminhos seguros e carrega nos ombros os feridos e os cansados. O coordenador é o bom pastor que, só por amor, entrega sua vida e serviço da Igreja.

O coordenador de pastoral deve lembrar-se de que p sucesso de seu trabalho vai depender de suas atitudes e exemplos. O seu zelo, seu empenho e cuidados devem ser redobrados, pois estará rodeado de pessoas dispostas a confiar em suas palavras e, até mesmo, a imitar suas ações. Por tudo isso, precisa manter-se atualizado para interpretar com fidelidade a palavra de Deus. Mais do que pregar o evangelho, deve praticá-lo e cuidar para que suas palavras e respostas não sejam vazias ou em desacordo com as orientações da Igreja.



Palavra de fé: “Cada um é dada a manifestação do Espírito Santo para proveito comum”. (1 Coríntios 12,7)

Como Deus Rezaria o Pai Nosso

Meu Filho que estás na terra, preocupado, solitário, desorientado.
Eu conheço perfeitamente teu nome e o pronuncio santificando-o porque te amo.
Não. Não estás só, mas habitado por mim e juntos construiremos este Reino do qual tu vais ser o herdeiro.
Gosto que faças minha vontade, porque minha vontade é que tu sejas feliz.
Conta sempre comigo e terás o pão para o hoje. Não te preocupes.
Só te peço que saibas compartilhá-lo com teus irmãos.
Sabes que perdôo todas tuas ofensas, antes mesmo que as cometas, por isso te peço que faças o mesmo com os que te ofenderam.
Para que nunca caias na tentação, toma forte a minha mão e eu te livrarei do mal.


Palavra de fé: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação. Pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca”. (Marcos 14,38)

Quarta-feira da Semana Santa

Leitura do Evangelho: Mateus 26, 14-25

Reflexão

* Ontem o evangelho falou da traição de Judas e da negação de Pedro. Hoje, fala novamente da traição de Judas. Na descrição da paixão de Jesus do evangelhos de Mateus acentua-se fortemente o fracasso dos discípulos. Apesar da convivência de três anos, nenhum deles ficou para tomar a defesa de Jesus. Judas traiu, Pedro negou, todos fugiram. Mateus conta isto, não para criticar ou condenar, nem para provocar desânimo nos leitores, mas para ressaltar que o acolhimento e o amor de Jesus superam a derrota e o fracasso dos discípulos! Esta maneira de descrever a atitude de Jesus era uma ajuda para as Comunidades na época de Mateus. Por causa das freqüentes perseguições, muitos tinham desanimado e abandonado a comunidade e se perguntavam: "Será que é possível voltar? Será que Deus nos acolhe e perdoa?" Mateus responde sugerindo que nós podemos romper com Jesus, mas Jesus nunca rompe conosco. O seu amor é maior do que a nossa infidelidade. Esta é uma mensagem muito importante que colhemos do evangelho durante a Semana Santa.

* Mateus 26,14-16: A Decisão de Judas de trair Jesus. Judas tomou a decisão, depois que Jesus não aceitou a crítica dos discípulos a respeito da mulher que gastou um perfume caríssima só para ungir Jesus (Mt 26,6-13). Ele foi até os sacerdotes e perguntou: “Quanto vocês me pagam se eu o entregar?” Combinaram trinta moedas de prata. Mateus evoca as palavras do profeta Zacarias para descrever o preço combinado (Zc 11,12). Ao mesmo tempo, a traição de Jesus por trinta moedas evoca a venda de José pelos seus próprios irmãos, avaliado pelos compradores em vinte moedas (Gn 37,28). Evoca ainda o preço de trinta moedas a ser pago pelo ferimento a um escravo (Ex 21,32).

* Mateus 26,17-19: A Preparação da Páscoa. Jesus era da Galiléia. Não tinha casa em Jerusalém. Ele passava as noites no Horto das Oliveiras (cf. Jo 8,1). Nos dias da festa de páscoa a população de Jerusalém triplicava por causa da quantidade enorme de peregrinos que vinham de toda a parte. Não era fácil para Jesus encontrar uma sala ampla para poder celebrar a páscoa junto com os peregrinos que tinham vindo com ele desde a Galiléia. Ele manda os discípulos encontrar uma pessoa em cuja casa decidiu celebrar a Páscoa. O evangelho não oferece ulteriores informações e deixa que a imaginação complete o que falta nas informações. Era um conhecido de Jesus? Um parente? Um discípulo? Ao longo dos séculos, a imaginação dos apócrifos soube completar a falta de informação, mas com pouca credibilidade.

* Mateus 26,20-25: Anúncio da traição de Judas. Jesus sabe que vai ser traído. Apesar de Judas fazer as coisas em segredo, Jesus está sabendo. Mesmo assim, ele faz questão de se confraternizar com o círculo dos amigos, do qual Judas faz parte. Estando todos reunidos pela última vez, Jesus anuncia quem é o traidor. É "aquele que põe a mão no prato comigo". Esta maneira de anunciar a traição acentua o contraste. Para os judeus a comunhão de mesa, colocar juntos a mão no mesmo prato, era a expressão máxima da amizade, da intimidade e da confiança. Mateus sugere assim que, apesar da traição ser feita por alguém muito amigo, o amor de Jesus é maior que a traição!

* O que chama a atenção é a maneira de Mateus descrever estes fatos. Entre a traição e a negação ele colocou a instituição da Eucaristia (Mt 26,26-29): a traição de Judas, antes (Mt 25,20-25); a negação de Pedro e a fuga dos discípulos, depois (Mt 25,30-35). Deste modo, ele destaca para todos nós a inacreditável gratuidade do amor de Jesus, que supera a traição, a negação e a fuga dos amigos. O seu amor não depende do que os outros fazem por ele.

Para um confronto pessoal

1) Será que eu seria capaz de ser como Judas e de negar e trair a Deus, a Jesus, aos amigos e amigas?

2) Na semana santa é importante eu reservar algum momento para compenetrar-me da inacreditável gratuidade do amor de Deus por mim.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Terça-feira da Semana Santa

Leitura do Evangelho: João 13, 21-33.36-38

Reflexão
* Estamos na terça feira da Semana Santa. Os textos do evangelho destes dias nos confrontam com os fatos terríveis que levaram à prisão e à condenação de Jesus. Os textos não trazem só as decisões das autoridades religiosas e civis contra Jesus, mas também relatam as traições e negações dos próprios discípulos que possibilitaram a prisão de Jesus pelas autoridades e contribuíram enormemente para aumentar o sofrimento de Jesus.

* João 13,21: O anúncio da traição. Depois de ter lavado os pés dos discípulos (Jo 13,2-11) e de ter falado da obrigação que temos de lavar os pés uns dos outros (Jo 13,12-16), Jesus se comoveu profundamente. E não era para menos. Enquanto ele estava fazendo aquele gesto de serviço e de total entrega de si mesmo, ao lado dele um discípulo estava tramando a maneira de como traí-lo naquela mesma noite. Jesus expressa a sua comoção e diz: “Em verdade lhes digo: um de vocês vai me trair!” Não diz: “Judas vai me trair”, mas “um de vocês”. É alguém do círculo da amizade dele que vai ser o traidor”.

* João 13,22-25: A reação dos discípulos. Os discípulos levam susto. Não esperavam por esta declaração tão séria de que um deles seria o traidor. Pedro faz um sinal a João para ele perguntar a Jesus qual dos doze iria cometer a traição. Sinal de que eles nem sequer desconfiavam quem pudesse ser o traidor. Ou seja, sinal de que a amizade entre eles ainda não tinha chegado à mesma transparência de Jesus para com eles (cf. Jo 15,15). João se inclinou para perto de Jesus e perguntou: “Quem é?”

* João 13,26-30: Jesus indica Judas. Jesus disse: é aquele a quem vou dar um pedaço de pão umedecido no molho. Ele pegou um pedaço de pão, molhou e deu a Judas. Era um gesto comum e normal que os participantes de uma ceia costumavam fazer entre si. E Jesus disse a Judas: “O que você tem que fazer, faça logo!” Judas tinha a bolsa comum. Era o encarregado de comprar as coisas e de dar esmolas para os pobres. Por isso, ninguém percebeu nada de especial no gesto e na palavra de Jesus. Nesta descrição do anúncio da traição está uma evocação do salmo em que o salmista se queixa do amigo que o traiu: “Até o meu amigo, em quem eu confiava e que comia do meu pão, é o primeiro a me trair” (Sl 41,10; cf. Sl 55,13-15). Judas percebeu que Jesus estava sabendo de tudo (Cf. Jo 13,18). Mesmo assim, não voltou atrás, e manteve a decisão de trair Jesus. É neste momento que se opera a separação entre Judas e Jesus. João diz que o satanás entrou nele. Judas levantou e saiu. Ele entrou para o lado do adversário (satanás). João comenta: “Era noite”. Era a escuridão.

* João 13,31-33: Começa a glorificação de Jesus. É como se a história tivesse esperado por este momento da separação entre a luz e as trevas. Satanás (o adversário) e as trevas entraram em Judas quando ele decidiu de executar o que estava tramando. Neste mesmo momento se fez luz em Jesus que declara: “Agora o Filho do Homem foi glorificado, e também Deus foi glorificado nele. Deus o glorificará em si mesmo e o glorificará logo!” O que vai acontecer daqui para frente é contagem regressiva. As grandes decisões foram tomadas, tanto da parte de Jesus (Jo 12,27-28) e agora também da parte de Judas. Os fatos se precipitam. E Jesus já dá o aviso: “Filhinhos, é só mais um pouco que vou ficar com vocês”. Falta pouco para que se realize a passagem, a Páscoa.

* João 13,34-35: O novo mandamento. O evangelho de hoje omite estes dois versículos sobre o novo mandamento do amor e passa a falar do anúncio da negação de Pedro.

* João 13,36-38: Anúncio da negação de Pedro. Junto com a traição de Judas, o evangelho traz também a negação de Pedro. São os dos dois fatos que mais contribuíram para o sofrimento de Jesus. Pedro diz que está disposto a dar a vida por Jesus. Jesus o chama à realidade: “Você dar a vida por mim? O galo não cantará sem que me renegues três vezes”. Marcos tinha escrito: “O galo não cantará duas vezes e você já me terá negado três vezes” (Mc 14,30). Todo mundo sabe que o canto do galo é rápido. Quando de manhã cedo o primeiro galo começa a cantar, quase ao mesmo tempo todos os galos estão cantando. Pedro é mais rápido na negação do que o galo no canto.

Para um confronto pessoal

1) Judas, amigo, torna-se traidor. Pedro, amigo, torna-se negador. E eu?

2) Colocando-me na situação de Jesus: como enfrenta negação e traição, o desprezo e a exclusão?

segunda-feira, 2 de abril de 2012

REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA

Segunda-feira da Semana Santa

Leitura do Evangelho João 12, 1-11

Reflexão
Estamos entrando na Semana Santa, a semana da páscoa de Jesus, da sua passagem deste mundo para o Pai (Jo 13,1). A liturgia de hoje coloca diante de nós o início do capítulo 12 do evangelho de João, que faz a ligação entre o Livro dos Sinais (cc 1-11) e o Livro da Glorificação (cc.13-21). No fim do "Livro dos Sinais", apareceram com clareza a tensão entre Jesus e as autoridades religiosas da época (Jo 10,19-21.39) e o perigo que Jesus corria. Várias vezes tentaram matá-lo (Jo 10,31; 11,8.53; 12,10). Tanto assim, que Jesus era obrigado a levar uma vida clandestina, pois podia ser preso a qualquer momento (Jo 10,40; 11,54).

* João 12,1-2: Jesus, perseguido pelos judeus, vai à Betânia. Seis dias antes da páscoa, Jesus vai à Betânia na casa das suas amigas Marta e Maria e de Lázaro. Betânia significa Casa da Pobreza. Ele estava sendo perseguido pela polícia (Jo 11,57). Queriam matá-lo (Jo 11,50). Mesmo sabendo que a polícia estava atrás de Jesus, Maria, Marta e Lázaro receberam Jesus em casa e ofereceram um jantar para ele. Acolher em casa uma pessoa perseguida e oferecer-lhe um jantar era perigoso. Mas o amor faz superar o medo.

* João 12,3: Maria unge Jesus. Durante o jantar, Maria unge os pés de Jesus com meio litro de perfume de nardo puro (cf. Lc 7,36-50). Era um perfume cheiroso, caríssimo, de trezentos denários. Em seguida, ela enxuga os pés de Jesus com seus cabelos. A casa inteira ficou cheia do perfume. Em todo este episódio, Maria não fala. Só age. O gesto cheio de simbolismo fala por si mesmo. Lavando os pés, Maria se faz servidora. Jesus vai repetir o gesto na última ceia (Jo 13,5).

* João 12,4-6: Reação de Judas. Judas critica o gesto de Maria. Acha que é um desperdício. De fato, trezentos denários eram o salário de trezentos dias! O salário de quase um ano inteiro foi gasto de uma só vez! Judas acha que o dinheiro deveria ser dado aos pobres. O evangelista comenta que Judas não tinha nenhuma preocupação com os pobres, mas que era um ladrão. Tinha a bolsa comum e roubava dinheiro. Julgamento forte que condena Judas. Não condena a preocupação com os pobres, mas sim a hipocrisia que usa os pobres para se promover e se enriquecer. Nos seus interesses egoístas, Judas só pensava em dinheiro. Por isso não percebeu o que estava no coração de Maria. Jesus enxerga o coração e defende Maria.

* João 12,7-8: Jesus defende a mulher. Judas olha o gasto e critica a mulher. Jesus olha o gesto e defende a mulher: “Deixa-a! Ela o conservou para o dia da minha sepultura!" Em seguida, Jesus diz: "Pobres sempre tereis, mas a mim nem sempre tereis!" Quem dos dois vivia mais perto de Jesus: Judas ou Maria? Como discípulo,Judas convivia com Jesus há quase três anos, vinte e quatro horas por dia. Fazia parte do grupo. Maria só o encontrava uma ou duas vezes ao ano, por ocasião das festas, quando Jesus vinha a Jerusalém e visitava a casa dela. Só a convivência sem o amor não faz conhecer. Tolhe o olhar. Judas era cego. Muita gente convive com Jesus e até o louva com muito canto, mas não o conhece de verdade nem o revela (cf. Mt 7,21). Duas afirmações de Jesus merecem um comentário mais detalhado: (1) “Pobres sempre tereis”, e (2) “Ela guardou o perfume para me ungir no dia do meu sepultamento”.

* 1. “Pobres sempre tereis” Será que Jesus quis dizer que não devemos preocupar-nos com os pobres, visto que sempre vai haver gente pobre? Será que a pobreza é um destino imposto por Deus? Como entender esta frase? Naquele tempo, as pessoas conheciam o Antigo Testamento de memória. Bastava Jesus citar o começo de uma frase do AT, e as pessoas já sabiam o resto. O começo da frase dizia: “Vocês vão ter sempre os pobres com vocês!” (Dt 15,11a). O resto da frase que o povo já conhecia e que Jesus quis lembrar, era este: “Por isso, eu ordeno: abra a mão em favor do seu irmão, do seu pobre e do seu indigente, na terra onde você estiver!” (Dt 15,11b). Conforme esta Lei, a comunidade deve acolher os pobres e partilhar com eles seus próprios bens. Mas Judas, em vez de “abrir a mão em favor do pobre” e de partilhar com ele seus próprios bens, queria fazer caridade com o dinheiro dos outros! Queria vender o perfume de Maria por trezentos denários e usá-los para ajudar os pobres. Jesus cita a Lei de Deus que ensinava o contrário. Quem, como Judas, faz campanha com o dinheiro da venda dos bens dos outros, não incomoda. Mas aquele que, como Jesus, insiste na obrigação de acolher os pobres e de partilhar com eles os próprios bens, este incomoda e corre o perigo de ser condenado.

* 2. "Ela guardou esse perfume para me ungir no dia do meu sepultamento" A morte na cruz era o castigo terrível e exemplar, adotado pelos romanos para castigar os subversivos que se opunham ao império. Uma pessoa condenada à morte de cruz não recebia sepultura e não podia ser ungida, pois ficava pendurada na cruz até que os animais comessem o cadáver, ou recebia sepultura rasa de indigente. Além disso, conforme a Lei do Antigo Testamento, ela devia ser considerada como "maldita por Deus" (Dt 21, 22-23). Jesus ia ser condenado à morte de cruz, conseqüência do seu compromisso com os pobres e da sua fidelidade ao Projeto do Pai. Não ia ter enterro. Por isso, depois de morto, não poderia ser ungido. Sabendo disso, Maria se antecipa e o unge antes de ser crucificado. Com este gesto, ela mostra que aceitava Jesus como Messias, mesmo crucificado! Jesus entende o gesto dela e o aprova.

* João 12,9-11: A multidão e as autoridades. Ser amigo de Jesus pode ser perigoso. Lázaro corre perigo de morte por causa da vida nova que recebeu de Jesus. Os judeus decidiram matá-lo. Um Lázaro vivo era prova viva de que Jesus era o Messias. Por isso, a multidão o procurava, pois o povo queria experimentar de perto a prova viva do poder de Jesus. Uma comunidade viva corre perigo de vida porque é prova viva da Boa Nova de Deus!

Para uma reflexão pessoal
1) Maria foi mal interpretada por Judas. Você já foi mal interpretada alguma vez? Como você reagiu?
2) O que nos ensina o gesto de Maria? Que alerta nos traz a reação de Judas?