O “beijo santo”, como é conhecido o ósculo sagrado, é
muito comum nas celebrações cristãs, assumindo uma tradição pagã no Oriente
Médio. Em algumas comunidades, sobretudo na Igreja da África, o ósculo sagrado
é um gesto de saudação entre os fiéis. Para nós, interessa a tradição romana,
na qual a saudação é feita ao altar do sacrifício eucarístico. O
celebrante-presidente inclina a cabeça e beija o altar. É um gesto reverencial
e silencioso. Em alguns rituais antigos, encontramos que este beijo ao altar
era também repetido entre vários ministros celebrantes, como sinal de comunhão
espiritual e afetiva. Hoje, o altar é beijado apenas pelos sacerdotes no início
da celebração.
Saudação trinitária
O sinal da cruz é o ritual efetivo mais intenso de
abertura da ceia eucarística. Nem sempre é feito com a devida atenção. Nos
últimos tempos, despertou-se a necessidade de cantar esta saudação. Mesmo sendo
pouco aceitas por alguns estudiosos, as melodias serviram para valorizar este breve
ritual.
Este gesto inclui duas realidades de nossa doutrina:
- Gesto da cruz: quando recitamos o gesto da cruz,
recordamos o mistério da nossa salvação. Tecendo sobre o rosto o sinal da cruz,
fazemos anamnesis deste grande
acontecimento que marca a história da salvação.
Mais que demarcar o início do ritual, o sinal da cruz é
parte da oração. Não podem ser gestos imperceptíveis, maltraçados e sem
elegância. Este gesto deve recordar o traço entrecortado da cruz, com suas duas
hastes, para reviver espiritualmente a paixão e morte do Senhor.
- Nome trinitário divino: as palavras que
acompanham o gesto da cruz revivem o mistério da nossa fé, que é a Trindade
Santíssima. Nas pontas das hastes da cruz, aclamamos o nome de Deus, que é Pai,
que é Filho e Espírito Santo, revelando que os três participam e são solidários
na entrega do Filho Jesus Cristo, na cruz. A Trindade está presente por inteiro
no evento do Calvário. Recordamos os nomes das três pessoas da Santíssima
Trindade, para recordar em nome de quem estamos iniciando nossa celebração.
Na dimensão mística, o sinal da cruz tem o valor de
consagração ou santificação, suplicando a proteção divina, bem como se
entregando ao Senhor. Por esta motivação, fazemos sempre este sinal diante das
igrejas, no início de nossas atividades e em momentos cruciais da vida. Quem já
não observou um goleiro traçando o sinal da cruz na hora do pênalti, ou o
artista antes de sua performance? Este sinal significa súplica e entrega a
Deus.
Tantas vezes notamos sinais registrando o pertencimento
das pessoas a uma entidade ou uma divindade. Vamos recordar, por exemplo, do
Faraó (cf. Gn 41,42) que ofertou seu anel a José, delegando sua autoridade de
rei. O rei Assuero entregou à rainha Ester a marca do sinete real (cf. 1Rs
21,8). O pai do filho pródigo lhe entregou o anel, como sinal de pertença à
família (cf. Lc 15). Estes exemplos nos mostram como o sinal da cruz, traçado
sobre a fronte ou em nosso corpo, representa nosso pacto com Deus. Este pacto é
recordado no início da celebração para assinalar o significado de nossa fé.
Padres Antônio S.
Bogaz, Rodinei C. Thomazella e Professor João H. Hansen.
Palavra de fé: “Saudai-vos uns aos outros com o ósculo afetuoso. A paz esteja com
todos vós que estais em Cristo”. (1 Pedro 5,14)