sexta-feira, 12 de março de 2010

Liturgia é vida


Cura-me, estou doente! (Salmo 6)

Todos somos e estamos doentes. Ninguém pode fugir desta lei que está escrita no nosso corpo e na nossa alma. A experiência da dor é algo de tão pessoal que não se pode medir com nenhum instrumento inventado pelo homem.

Os cientistas tentam pode medir a dor, mas é algo de impossível. Os engenheiros podem saber quantas toneladas uma ponte pode sustentar e quanto peso uma balança pode carregar, mas nunca saberemos quanta dor os ombros humanos podem sustentar. Por isso nunca devemos fazer chantagem com os sofrimentos dos outros, mas ter uma atitude de silêncio, de adoração e de respeito quando alguém geme debaixo da sua dor, para que, para nós, pode até parece ridícula.

Mas na verdade toda a dor é algo de íntimo que exige todo o nosso amor. O salmista é um doente, um enfermo há muito tempo, cansado de sofrer e que sente nascer dentro de si uma “revolta surda, silenciosa”, que influencia e prejudica não só a ele mas também aos que convivem com ele. O versículo 4 nos dá uma dimensão do que se passa dentro desse enfermo: “Todo o meu ser está abalado”.

E tu, Senhor, até quando?

Quando nós dizemos “até quando?”, é porque estamos no limite de dor. Este salmo é pedagógico, sapiencial; na sua escolha aprendemos a nunca nos envergonhar dos nossos sofrimentos e das nossas fragilidades. O salmista nos diz que ele não tem mais lágrimas, e inunda com lágrimas dia e noite o seu leito.

Qual doença?

Não é fácil poder compreender que tipo de doença seria, para ser tão dura e tão deprimente. O que nos é dado compreender é o que diz hoje a psicologia, se acertar em cheio, que há no salmista uma grande somatização da dor que lhe atinge três partes do seu ser: o espírito, os ossos e os olhos.

O espírito que muitas vezes se traduz por “alma” é a parte mais nobre do ser humano, é a mais atingida de todo o nosso ser. A depressão, a tristeza, o desespero e a angústia podem ser um reflexo da nossa dor física. Preciso pedir constantemente ao Senhor um espírito forte, corajoso e decidido para não me deixar desanimar diante das realidades da vida. Ao salmista doem os ossos, uma dor generalizada que o ataca e o faz sofrer e não encontra lugar para um repouso tranqüilo. E os olhos que não lhe permitem enxergar tudo o que acontece ao seu redor.

Quem sabe se o salmista fez referência a vários tipos de “cegueiras”, físicas e espirituais. Mas diante de tudo isto os últimos versículos do salmo retomam a coragem e são um grito de esperança. Nunca encontramos um salmo que seja totalmente negativo e puro sofrimento, mas sempre haverá um horizonte de vida e de amor que se abre diante dos nossos olhos.

Versículos 10 e 11: o mal será vencido e os inimigos serão envergonhados. Não é fácil definir a que tipo de inimigos faz alusão o salmista, mas afinal, toda dor, sofrimento, quer sejam físicos ou espirituais não são por acaso inimigo que deve ser vencido?


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