quarta-feira, 24 de março de 2010

Colóquio afetivo

Todos nós sabemos, e somos mais do que conscientes, que a oração não pode ser uma ladainha de pedidos e súplicas, mas que é necessário instaurar com Deus nosso Pai amigo, um diálogo de amor.


Deus é amor e Ele nos ama com o mesmo amor com que Ele ama a si mesmo. Essa certeza é a base da nossa oração e um passo fundamental entre todos os outros que fazemos no caminho que tem como finalidade nos levar ao diálogo com Deus. Todo diálogo não pode ser demasiadamente formal, necessita de espontaneidade, de abertura, de comunhão. O diálogo é a forma mais bela com que se revela a amizade entre as pessoas. Para nós, é possível o diálogo somente através das palavras, mas nosso colóquio com Deus, mais do que palavras, é presença silenciosa e amorosa diante dele.

Depois de termos escutado e meditado a palavra de Deus, surge espontânea em nós a necessidade de traduzir com palavras, com gestos ou silenciosamente todo o nosso amor para com Ele. Jesus nos recorda: “Quando rezardes, não multipliqueis as palavras como fazem os pagãos. O Pai sabe do que necessitais” (Mateus 6,7-8). Deus, conhecendo em profundidade o nosso ser e a nossa pobreza, estende a mão para nos ajudar antes que nós lhe peçamos. É o próprio do amor prevenir os que nós amamos. O diálogo com Deus deve ter duas características fundamentais:

1. Deve ser um diálogo humilde, sem prepotência. Nunca diante de Deus e diante dos outros, podemos levantar a voz e fazer valer os nossos direitos. O direito do amor é amar. O dever é deixar-se amar. Nesse relacionamento de humildade, é que nos sentimos atraídos por Deus e amados numa forma toda especial. Ser humilde é reconhecer de um lado as nossas fragilidades e pecados e, de outro, saber também reconhecer as nossas capacidades, dons, riqueza e amor. Deus gosta que nós lhe digamos que o amamos sobre todas as coisas.

2. O diálogo deve ser sincero. Não podemos cair no diálogo dos fariseus que se apresentavam diante de Deus como cumpridores fiéis de todos os deveres e, por isso, achavam-se em grau de julgar o publicano. A sinceridade da oração deve nos levar a apresentar diante de Deus o que somos na realidade, sem máscaras, sem maquiagem. Na mudez do nosso espírito, o Senhor realiza suas maravilhas. Na sinceridade do diálogo, devemos conversar com ele de tudo o que nos faz felizes ou infelizes, tristes ou alegres, e esperar que ele venha em nossa ajuda e socorro.

Assim, concretizamos o diálogo afetivo, amoroso, cheio de ternura filial com o nosso Deus. Podemos, então, sentir sua presença em nossa vida e confirmar em nós a certeza de que Ele nos ama. Deus “não quer sacrifícios e holocaustos”, mas sim um coração humilde e arrependido, um coração sincero que se revela em tudo na sua beleza e na sua fragilidade. Santa Teresinha nos ensina como deve ser o nosso diálogo, quando diz: “Para mim, a oração é um impulso do coração, um simples olhar para o Céu, um grito de gratidão e de amor no meio da provocação como no meio da alegria. Enfim, é alguma coisa de grande, de sobrenatural que dilata a minha alma e me une a Jesus”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário