sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Um santo completo



Eu descrevia a pessoa de Dom Luciano a três jovens da RCC (Renovação Carismática Católica) que tinham ouvido pouco a seu respeito. Terminei a exposição, e a jovem de 23 anos disse: “Então ele era um santo completo!”.

Acertou. Os santos buscam perfeição, mas sofrem com os seus defeitos, porque continuam pagando o preço desta ou daquela imperfeição ou falha que ainda carregam. A plenitude nunca vem. Não são santos pela metade, mas ficam sempre aquém do seu projeto. Mesmo assim, a Igreja oferece como modelo de discipulado em Cristo.

Há, porém, os santos mais completos. Dom Luciano Mendes de Almeida foi um deles. Quem o conheceu garante que ele viveu a santidade nos seus mais diversos aspectos. O mistério da graça se difundiu e ampliou nele de tal forma que Dom Luciano não era nem será um santo de ontem. É homem e bispo para todos os tempos. Dele se poderia dizer como se disse de Thomas Becket: homem para a eternidade. Voltado para o céu, como atestam suas falas, seus gestos e seus escritos, nunca tirou também o seu olhar do mundo, onde as pessoas sofriam e sofrem. Tinha discernimento e equilíbrio. Nenhum vento o levou para lugar nenhum a não ser o sopro do Espírito. Não era dado a modismos ou cristas da onda. Sua fala era profunda e centrada na Palavra de Deus. Catequista consciente, ele repercutia a Igreja, sempre, o tempo todo.

Culto, atualizado, sereno, pobre, simples, despojado, cabeça humildemente inclinada para a frente, como se a render homenagem a quem o procurava, era tudo menos um santo de cabeça torta. Nisso, ele era reto e altivo: na defesa dos pequenos. Mas não perdia a classe. Não poucas vezes, falei dele em minhas aulas de comunicação como um rio, antes uma catadupa de água viva. Não procurava palavras: elas vinham fluentes da sua mente de jesuíta brilhante que era. Ouvi-lo era uma delícia. Tinha embutido nele um dicionário, uma bíblia e os documentos da Igreja. Tudo fluía com elegância e humildade. Era só provocá-lo que estava lá. Sábio, humilde, santo, asceta e gentil, era também exigente e corajoso na defesa dos direitos humanos.

Seminaristas que procuram um exemplo de religioso, padre e bispo a seguir podem olhar para dom Luciano. Nós, católicos, que gostamos de lembrar os santos que Jesus formou, temos mais um para recordar. Não seria nada estranho imaginar daqui a alguns anos um são Luciano de São Paulo ou de Mariana, assim como hoje se fala de Antonio de Pádua ou Francisco de Assis. Aqueles eram completos, apesar dos seus pequenos limites. Dom Luciano, também.

Foi bom tê-lo entre nós. Será bom lembrá-lo sempre. Não passou e não vai passar exatamente, porque nunca falou de si mesmo e fugiu o quanto pôde das homenagens. Os aplausos eram para os outros. Ele os puxava. Quando eram para ele, baixava a cabeça. Este é o bispo que morreu em 27 de agosto passado. Que seja reverenciado! Agora, imagino que ele aceitará!




Palavra de fé: “Considerai, meus filhos, as gerações humanas: sabei que nenhum daqueles que confiavam no Senhor foi confundido”. (Eclesiástico 2,11)

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