segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Em busca do Cálice Sagrado: Santo Graal

Ao longo da história, inúmeras lendas descrevem a eterna busca do ser humano por um objeto mágico e misterioso, capaz de curar as feridas do corpo e do coração, prolongar a existência e, ao fim, trazer algum tipo de resposta sobre o sentido e o significado da vida. Poucas, porém, têm a força da lenda do Santo Graal, o misterioso cálice em que Jesus Cristo bebeu vinho na última ceia ou que, em outra versão, foi usado para recolher seu sangue na cruz.

A saga medieval da procura da taça é, na verdade, uma metáfora sobre a viagem espiritual que todo ser humano empreende ao decidir trilhar o caminho em direção ao autoconhecimento em busca de felicidade e realização pessoal. Em um tempo de incertezas como este que vivemos, o Graal guarda lições inspiradoras.

Cavaleiros e peregrinos
A lenda, de origem incerta, é na verdade um amálgama que une passagens da Bíblia, rituais judaicos, mitos gregos e celtas e símbolos pagãos muito mais antigos do que o cristianismo. “Apesar da referência à ceia e à crucificação de Jesus, não há citação ou referência ao cálice em nenhum dos Evangelhos do Novo Testamento, os textos que descrevem a trajetória do mestre”, afirma Tereza Cavalcanti, professora de introdução à escritura sagrada da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ). “Esse objeto é fruto da imaginação popular, que ao longo do tempo foi incorporando fatos e situações ao que está realmente nos textos sagrados.”

A possibilidade da existência desse artefato sagrado incendiou corações e mentes na Idade Média, quando a lenda integrou-se aos romances de cavalaria, que se popularizaram por volta do século 12. A aventura da busca pelo Graal incorporou, então, ideais como coragem, altruísmo e espírito heróico, atributos dos cavaleiros medievais. Esses intrépidos personagens renunciavam a suas famílias e posses para sair pelo mundo em longas e perigosas jornadas, combatendo dragões, salvando donzelas e também seguindo o rastro do misterioso cálice do salvador.

Nessa época, a busca do Graal colocava sob um enfoque romântico, aventureiro e cavalheiresco outro tipo de jornada espiritual, que se tornou hábito na época: a peregrinação. Os devotos enfrentavam todo tipo de provação viajando a terras distantes para venerar relíquias sagradas – fragmentos de ossos, pedaços de túnicas ou qualquer outro objeto pretensamente atribuído a Jesus, Maria ou aos santos católicos. “Tanto a peregrinação como a busca do Graal são, ao mesmo tempo, viagens externas e experiências internas. Um peregrino e um cavaleiro deixam para trás suas vidas cotidianas e partem em busca de algo que lhes falta sem necessariamente saber o quê”, explica a psicanalista americana Jean Shinoda Bolen, da Universidade de São Francisco, no livro O Caminho de Avalon – Os Mistérios Femininos e a Busca do Santo Graal (ed. Rosa dos Tempos).
Citações ao Graal aparecem em quase todas as muitas versões da mais famosa dessas sagas, a do Rei Artur e os Cavaleiros da Távola Redonda. Outra conhecida lenda dizia que ele está escondido no castelo do Rei Pescador, que, dono de uma ferida incurável, é soberano de um reino triste e decadente, arrasado pela fome e pelo sofrimento. Segundo a história, o rei só será curado e suas terras recuperarão o antigo esplendor quando um cavaleiro de espírito puro e ideais elevados encontrar o castelo – e, nele, o cálice. A lenda – que inspirou o filme O Pescador de Ilusões, dirigido pelo inglês Terry Gillian, – transpõe a saga para a Nova Iork dos anos 90 – é, na verdade, uma metáfora sobre o autoconhecimento.

“Em um mundo marcado pela agressividade e competição como o de hoje, a busca simbólica do cálice sagrado continua atual”, afirma Denise Gimenez Ramos, psicóloga e professora de ciências da religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). “Ela representa a necessidade e a inspiração para retomarmos valores considerados femininos, como amor, sensibilidade, fraternidade, compaixão e delicadeza, os mesmos que foram defendidos por Jesus Cristo.”




Palavra de fé: “Afastou-se pela segunda vez e orou dizendo: “Meu Pai, se não é possível que este cálice passe sem que eu o beba, faça-se a tua vontade”. (Mateus 26,42)

Nenhum comentário:

Postar um comentário