segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Sussurro de Deus

Conta-se que um amigo levou um índio para passear no centro de uma grande cidade. Seus olhos não conseguiam crer no tamanho dos edifícios e ele mal conseguia acompanhar o ritmo frenético das pessoas indo e vindo. Espantava-se com o barulho ensurdecedor das sirenes, dos automóveis e das pessoas falando em voz alta.

De repente, o índio falou: “Ouço um grilo...”. O amigo espantado retrucou: “Impossível ouvir um inseto tão pequeno nessa confusão!”. O índio insistiu que ouvia o cricrilar de um grilo. Então tomou seu amigo pela mãe e levou-o até um canteiro. Afastando as folhas, apontou para o pequeno inseto. “Como?”, perguntou o rapaz, ainda sem crer. O índio pediu-lhe algumas moedas e jogou-as na calçada. Quando elas caíram e se ouviu o tilintar do metal, muita gente se voltou.

Então o índio falou: “Escutei o grilo porque os meus ouvidos estão acostumados com esse tipo de barulho. As pessoas aqui ouvem o dinheiro caindo no chão porque foram condicionadas a reagir a esse tipo de estímulo”. Depois arrematou: “A gente ouve o que está acostumado ou treinado para ouvir”.

É importante fazer algumas reflexões sobre as mensagens que esta pequena história contém.

Vivemos mergulhados numa infinidade de ruídos, de barulhos estranhos, num mundo onde grande parte das pessoas só responde ao estímulo de um tilintar de moedas.

Precisamos adestrar nossa audição para ouvir os mínimos sussurros que passam despercebidos no dia a dia agitado. Poderíamos dizer que, se tivéssemos ouvidos bem treinados, poderíamos ouvir os sussurros de Deus. Nesse mundo barulhento, deixamos de ouvir sons de profunda beleza, como a melodia suave da brisa da manhã ou a sonoridade encantadora do bater das asas de um beija-flor.

Em meio a tantos interesses materialistas, a homenagem que as antigas e frondosas árvores rendem a cada amanhecer, com a cantoria de sua folhagem, não nos sensibiliza a audição. O ritmo frenético em que vivemos não permite ouvir a cantoria dos pássaros, o coaxar das rãs, o piar da coruja solitária que busca refúgio nos grandes centros. É preciso treinar a audição, mas também desenvolver outras sensibilidades que por vezes parecem adormecidas.

Deixar que o nosso coração se enterneça diante do apelo silencioso de uma criança sem lar... Do soluço abafado de alguém que perambula sem esperança... De um pedido de socorro que não chefa a vibrar nas cordas vocais... Do gemido quase mudo que vem do leito de dor da casa vizinha...

Enfim, precisamos apurar todos os sentidos para que possamos ter olhos para ver e ouvidos para ouvir. Mas, acima de tudo, um coração para sentir...



Palavra de fé: “Ao sopro de Deus forma-se o gelo e a superfície das águas se congela”. (Jó 37, 10)

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