quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Por que o filho único deixou de ser mimado?

Ter apenas um herdeiro é cada vez mais uma opção – e os pais estão mais bem preparados para lidar com ele.

O americano G. Stanley Hall (1844-1924), um dos pais da psicologia infantil, chegou a afirmar que “ser filho único é uma doença”. Desde então o mito vem se propagando. Crianças sem irmãos seriam isoladas, dependentes, mimadas, consumistas, egoístas, autoritárias – enfim, pequenos e problemáticos tiranos.

É tempo de rever esse conceito. Ter apenas um filho é cada vez mais uma opção dos casais. As taxas de fecundidade nunca estiveram tão baixas, graças principalmente às melhorias de condições econômicas. Ter família numerosa não é mais questão de sobrevivência. O Brasil é bom exemplo. Em 1970 cada mulher tinha em média 5,8 filhos. Em 2006 a taxa era de 2, a mesma dos Estados Unidos. E entre as mulheres com renda maior que cinco salários mínimos eram de apenas 1,1. Com a mudança da estrutura familiar, pais e educadores aprendem a lidar com essa nova situação.

O filho único é um tirano em potencial?
Não. Centenas de estudos comprovam que o comportamento da criança não muda se ela tiver ou não irmãos, afirmou Susan Newman, psicóloga da Universidade Rutgers, nos Estados Unidos, ao site ABC News. São outros os fatores que podem influenciar. Ser introvertido, por exemplo, é uma característica mais determinada pela genética. O que o filho único tem de diferente pode ser os pais.

Os pais do filho único podem estragá-lo?
Sim. Pais de filho único têm grandes desafios pela frente, como não pressionar a criança a ser perfeita, disse a psicóloga americana Toni Falbo à revista Claudia Bebê. Eles devem saber domar suas próprias inseguranças e tomar cuidado para não extrapolar nas cobranças, não se tornar superprotetores e ensinar o valor do dinheiro.

O filho único é mais solitário?
Pelo contrário. Como não tem irmãos, ele aprende a ser mais sociável, acredita Carolyn White, editora do site americano www.onlychild.com, voltado para orientação das famílias com um só herdeiro. Alguns cuidados nesse sentido podem ser tomados. Na hora de escolher uma escola os pais devem optar por aquelas que valorizem os trabalhos em grupo e esportes coletivos. No lugar do irmão, é o amiguinho que vai ensinar a criança a dividir os brinquedos, a lidar com o ciúme e a competir por atenção.

Que outros cuidados os pais devem ter com o filho único?
Deixá-lo freqüentar a casa dos amigos é importante para que ele conviva com a diversidade, segundo especialistas ouvidos pelo jornal Diário Popular, de Pelotas.

O filho único é mais adulto que as demais crianças de sua idade?
Sim. Ele possui, em média, mais vocabulário, mais cultura geral e maior interesse por áreas diversas como música, literatura, matemática e ciência, diz o jornalista Bill McKibben, autor do livro Maybe One: A Personal and Environmental Argument for Single-Child Families (Um, Talvez – Uma Argumentação Pessoal e Ambiental em Favor das Famílias de Um Filho Só).

Qual a vantagem de ter um irmão?
Irmão geralmente faz bem. Nele se bate, dele se apanha, divide-se com ele o amor dos pais, diz a Claudia Bebê. Mas ter um segundo filho deve ser sempre uma opção, nunca uma obrigação.

Por que as pessoas cada vez mais têm um filho só?
Geralmente por querer dar mais atenção e melhores recursos a um filho, por falta de tempo para cuidar de sua educação, pelo investimento das mulheres na carreira. Se ter apenas um filho for uma opção, é bom deixar claro para ele. Isso pode evitar futuras chantagens sentimentais.



Manual de instruções

Como educar seu pequeno tirano


- Ponha a criança cedo na escola. Com os amiguinhos ela aprenderá a dividir.

- Prefira escolas que valorizem trabalhos em grupo e esportes coletivos.

- Continue a fazer as atividades de antes do filho. Assim ele não se sentirá sempre o centro das atenções.

- Não dê muitos presentes. Ensine a ele o valor do dinheiro.

- Tome cuidado para não ser superprotetor nem muito exigente.



Palavra de fé: “O filho mal educado é a vergonha do seu pai, a filha semelhante não gozará de nenhuma consideração”. (Eclesiástico 22,3)

Nenhum comentário:

Postar um comentário