Perguntar-se
sobre a vocação, é perguntar-se sobre si, sobre a própria vida. É o mesmo que
se questionar sobre o sentido da vida, ou que direção dar a ela. Aqui se pode
perceber que se trata de algo mais do que eu quero fazer, trata-se do que eu
quero ser, do que quero ser de verdade e de como quero viver a vida que recebi.
Enfim, essa pergunta trata daquilo que me move, a partir de dentro, a fazer ou
deixar de fazer algo. É isso que quer saber o jovem e a jovem que se indaga
sobre a própria vocação.
Para as coisas
mais fundamentais da nossa vida, para aquilo que para nós é a mais importante
não existem respostas prontas nem receitas mágicas. Existe, isso sim, um
caminho a percorrer, com dicas e indicações dadas pela própria Igreja, que na
sua longa experiência, percebeu que eram boas e as propõe para quem está
disposto a caminhar.
Por isso, se
quisermos conhecer nossas inspirações mais profundas, os porquês de nossa vida
e aquilo que nos move a partir de dentro (nossas motivações), se nós quisermos
realmente conhecer nossa vocação pessoal, então devemos iniciar um processo de
discernimento vocacional. E justamente por ser um processo, o discernimento
vocacional não acontece do dia para noite (como gostaria a nossa geração que
quer tudo para ontem), mas é um caminho a ser trilhado até se chegar a uma
decisão livre, firme e apaixonada por Cristo e seu projeto. Essa decisão é
fruto de nossa fé e de nossa liberdade e não de um sentimentalismo eufórico
(fogo de palha) que some do mesmo jeito que chegou.
Esse processo, ou
caminhada, como preferimos, inclui três elementos essenciais, aos quais temos
que necessariamente estar ligados:
- uma sincera
amizade e um intenso relacionamento com Deus, porque é Ele quem chama;
- o conhecimento
e aceitação de si mesmo, dos próprios gostos, preferências, desejos,
aspirações, sonhos, tendências, limites, defeitos e qualidades; e
- o conhecimento
e aceitação do mundo à nossa volta, este mundo do qual fazem parte as outras
pessoas com as quais dividimos a aventura da vida; as realidades sociais,
políticas, econômicas e culturais do nosso tempo e contexto; bem como as
diversas possibilidades oferecidas: estilos de vida, profissões, carreiras.
É dentro destas
realidades, às quais estamos ligados e com as quais nos relacionamos, isto é,
com Deus, conosco mesmos, com os outros e com o mundo, que se pode e se deve
fazer um bom discernimento vocacional.
Mas o que
significa discernir? Discernir é a capacidade de conhecer com clareza, de
perceber a diferença entre as coisas. Em uma expressão popular, quem sabe
discernir “não compra gato por lebre”. Discernir a vocação é, pois, a
capacidade de conhecer com clareza qual a minha vocação e perceber em que sou
diferente dos outros, ou seja, quem sou eu.
A pessoas humana,
criada à imagem e semelhança de Deus, é liberdade e mistério, por isso, só
podemos começar esse trabalho de discernimento a partir do Espírito Santo,
espírito de verdade e de luz, de sabedoria e discernimento, que sempre age na
comunidade, iluminando, provocando, tirando do comodismo, pondo-nos a caminho.
Podemos já
perceber duas dicas muito importantes para quem quer discernir, conhecer com
clareza, o próprio chamado:
- a presença do
Espírito Santo, que é força, coragem, consolo, fogo, amor, luz...
- a pertença a
uma comunidade, primeiramente à família, mas também à Igreja, lugar onde Deus
chama, onde se aprende a ser irmão e se coloca a vida a serviço de todos.
Frei Rodrigo Moraes
Palavra de fé: “A cada um é dada a manifestação do Espírito para proveito comum”. (1
Corintios 12,7).
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