terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Depoimento: Corrida contra o tempo

Sou técnica de enfermagem e sempre pensei que só teria forças para cuidar dos filhos dos outros. Mas me enganei. E, dezembro do ano passado, meu marido e eu estávamos sentados no banco de um quiosque de um shopping em São Gonçalo (RJ), enquanto Carol brincava a uns três palmos diante de mim. De repente, vi uma placa de desprender e atingi-la. Quando conseguiram retirar, a parte de cima da orelha estava afundada e ela não respirava.

Trabalhei em emergência de hospital e vi vários casos iguais. Meu marido ficou anestesiado. Ele dizia: “Monique, se acalme”. Eu mostrava Carol desacordada e repetia: “Ela não respira”. Seu corpo estava roxo e eu sabia que precisava urgentemente de oxigênio. Analisei os riscos e os benefícios de tirá-la dali, porque também podia causar danos à coluna, já que o pescoço estava virado. Nesse momento, veio o segurança e me levou para a enfermaria do shopping. Perguntei se havia ambu, um dispositivo para ventilação pulmonar, mas não tinha. Pedi então uma baça de oxigênio e me informaram que estava estragada. Insisti e o aparelho funcionou – dei carga máxima, o tórax dela se expandiu, o rostinho clareou. Fomos direto ao Hospital das Clínicas de Niterói, onde trabalho. Via na expressão dos médicos que o quadro era grave. Minha filha vomitava sangue em jato, sinal de que algo na parte neurológica não ia bem. Teve traumatismo craniano, ficou desacordada por dois dias e, como o acidente atingiu a área que controla a fala, não dizia nada quando acordou. Mas eu a estimulava o tempo todo. Pegava o travesseiro do hospital e perguntava: “Está vendo a letra do seu nome aqui?”. Ou então exibia alguns desenhos, pedia para mexer a perna, colocar a língua para fora. Carol respondia a tudo.

O traumatismo calcificou e não ficaram seqüelas. Ela não se lembra de nada. Sabe apenas que uma placa caiu na cabeça dela, mas que todo mundo rezou e Papai do Céu a curou. Eu também queria apagar as lembranças, mas não consigo. Agora, vamos comemorar duas datas: o aniversário, no dia 24 de julho, e o dia 29 de dezembro, quando dei vida a ela pela segunda vez.


Palavra de fé: “Quem nela põe sua confiança tê-la-á como herança e sua posteridade a possuirá”. (Eclesiástico 4,17)

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