sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Bento XVI e a Bíblia



Em setembro, celebramos o mês da Bíblia. Muitos católicos encontram dificuldades na leitura da Sagrada Escritura, especialmente do Antigo Testamento. Os livros históricos contam que o antigo povo de Israel esmagou os povos que habitavam na terra de Canaã; os salmistas pedem a Deus que extermine os inimigos de Israel, e o livro de Eclesiastes ou Coélet diz que todas as alegrias e esforços humanos são em vão, porque afinal todos nós moremos, o sábio igual ao estulto. Como devemos entender esses textos?

Bento XVI responde: “Devemos ler e entender a Bíblia na sua unidade e integridade”. Os diversos livros são partes de um caminho. Não se deve interpretar um trecho bíblico, tirando-o do seu contexto e do conjunto dos livros bíblicos. Um exemplo clássico é a afirmação: “Deus não existe!”, que o Salmo 14 (13) atribui ao insensato. Ou a piada daquele que, querendo encontrar a vontade de Deus sobre ele, abriu o novo testamento e encontrou: “Judas saiu e foi se enforcar” (Mt 27,5). Não gostando da idéia, tornou a abrir e leu: “Vai e faze tu a mesma coisa” (Lc 10,37).

Ao ler um texto bíblico, devemos ter sempre presente a totalidade da Sagrada Escritura, onde uma parte explica a outra, um trecho do caminho explica o outro. Os próprios escritores sagrados reliam os textos antigos, esforçando-se por compreendê-los sempre melhor. A caminhada do povo de Israel nos deve conduzir até Jesus. No caminho de Emaús, o Senhor explicou aos discípulos tudo o que os profetas tinham falado a seu respeito. Só caminhando com Cristo podemos compreender a totalidade da palavra de Deus.

A Bíblia deve ser lida e interpretada na Igreja, luz da fé. A liturgia e a leitura orante (lectio divina) são os lugares privilegiados para a compreensão da Palavra de Deus. É na Igreja que a leitura da Bíblia se torna oração e se une à oração de Cristo, na oração eucarística.

O Papa escolheu como tema do próximo Sínodo dos Bispos: “A palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”. Ele espera que o encontro com a Palavra traga à Igreja uma nova primavera. O sínodo, a realizar-se no próximo ano, deverá ajudar, também, ao diálogo ecumênico. A leitura da palavra de Deus conduz os cristãos das diversas Igrejas a um encontro com Cristo e com os irmãos.

A Palavra de Deus é sempre maior do que as nossas discussões e interpretações. Santo Agostinho disse: “Da fonte bebe a lebre e bebe o burro. O burro bebe mais, mas cada um bebe segundo a sua capacidade. Quer sejamos lebres, quer sejamos burros. Agradecemos ao Senhor porque nos faz beber da sua água”.


Bento XVI, Encontro com o Clero de Roma, 22/02/2011.



Palavra de fé: “Traze sempre na boca (as palavras) deste livro da lei; medita-o dia e noite, cuidando de fazer tudo que nele está escrito; assim prosperarás em teus caminhos e serás bem sucedido”. (Josué 1,8)

Nenhum comentário:

Postar um comentário