terça-feira, 23 de novembro de 2010

Déficit de atenção e hiperatividade

Será que o seu filho tem?

Saiba, de uma vez por todas, o que é mito e o que é verdade em relação ao TDAH.

Os especialistas atestam a gravidade da doença e prescrevem medicamentos para as crianças. Ao contrário, jornais e revistas questionam a existência do distúrbio. Aí fica a confusão na cabeça dos pais. Nada de desespero. O TDAH é um dos mais bem estudados transtornos da psiquiatria – mais de 8 mil pesquisas foram realizadas e apresentadas no III Congresso Internacional da Associação Brasileira do Déficit de atenção (ABDA), realizada no Rio de Janeiro.

Afinal, o que é TDAH?

Talvez você conheça alguém com este sintoma. O menino não pára quieto, a menina é distraída e vive no mundo da lua. Estes comportamentos são sintomas de um transtorno neurobiológico. Crianças com TDAH reagem menos a alguns estímulos, além de terem partes do cérebro menores que o normal. Tem dificuldades de regular dopamina e repinefrina, substâncias necessárias para a concentração e o controle de impulsos.

O TDAH tem três subtipos:

1. O predominante desatento, é o que, apesar de ter sintomas de hiperatividade, apresenta mais os de desatenção. É a criança que não consegue se concentrar para copiar matérias ou fazer tarefas. Vai mal à escola e nas provas, porque não lê direito os enunciados. Está no mundo da lua e não termina o que começou. É o tipo mais comum, por isso, a maioria dos pais não os leva às clínicas médicas, porque a criança não dá trabalho, ou seja, mal é notada. Passa horas e horas fazendo o que gosta como: desenhar, jogar vídeo game, mas terá dificuldades na atividade menos atraente ao seu gosto.

2. Sintomas de hiperatividade e impulsividade, neste caso, a criança não pára quieta. Seu comportamento é excessivo. Arrisca-se mais que o normal em relação à idade, corre e fala sem parar, age sem pensar. Os pais devem prestar atenção minuto a minuto, pois o risco de acidentes é grande. É o tipo mais raro.

3. Combinato é uma mistura dos dois sintomas citados anteriormente.

Todo mundo tem alguns desses sintomas, mas não o bastante para se diagnosticar TDAH. É preciso que ocorram com freqüência bem maior que nas outras pessoas, que atrapalham as principais atividades da vida. Alguns até consegue, tirar boas notas e ir bem na carreira profissional. Mesmo assim, pode ocorrer algum dano em outra área, como a social e a pessoal.

É o que aparece nas estatísticas da doença. As crianças com TDAH têm de duas a quatro vezes mais chances de sofrer acidentes ou traumas e sete vezes mais chances de envenenamento. Quando adultos, tem três vezes mais chances de morrer na juventude.

São mais suscetíveis a álcool e drogas e mais probabilidades de engravidar na adolescência e abandonar a escola mais cedo.

Apesar da gravidade do distúrbio, reconhecido pela Organização Mundial da Saúde, o TDAH causa polêmica. Alguns defendem que ele não existe e que seria uma invenção da indústria farmacêutica para vender remédios. Mas para os estudiosos a verdade é outra.

“Ciência não é questão de opinião, e sim, pesquisa”, diz o presidente da ABDA, Paulo Mattos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Duvidar que o TDAH existe é o mesmo de duvidar de diabetes ou do câncer.

Preste atenção no seu filho para ver se há algum problema. “Existe a criança bagunceira e a criança com TDAH”, diz Paulo Mattos. São coisas diferentes. Apenas o que tem o distúrbio deve ser medicado. O difícil é fazer o chamado “diagnóstico diferencial”, ou seja, distinguir sintomas com exatidão o transtorno que acomete a criança. Os sintomas do TDAH podem ser confundidos com os da depressão ou dislexia, por exemplo.

As complicações aumentam quando se pensa nos transtornos que acompanham o TDAH. “As doenças vem em conjunto”, diz Russel Barkley, do Departamento de Psiquiatria da Universidade Médica Upstate, de Nova Iorque, nos EUA. Quem tem uma, tem mais chance de ter a outra.

No TDAH, 80% dos portadores, em média, apresentam pelo menos uma; 54% apresentam duas. O sucesso do tratamento depende de diagnosticar todas as doenças existentes. Por exemplo, tratar uma criança com TDAH será diferente de tratar uma que tenha TDAH e transtorno bipolar.

Existe o risco de uma criança ser diagnosticada e não ter o distúrbio? Sim. Como a doença não é detectada por exames laboratoriais, e sim por avaliação clínica, pode haver engano. Por isso, é fundamental procurar um bom especialista. Um ponto de partida é o site da ABDA – www.tdah.org.br – que indicam profissionais e traz dados sobre a doença.

Pesquisar, ler livros, visitar sites confiáveis, conversar com especialistas, dará aos pais mais segurança. Não é preciso dar remédios para os filhos sem questionar. Os pais precisam ter segurança para fazer o melhor para seus filhos. O diagnóstico correto é fundamental para que a criança receba o tratamento adequado e não tomar remédios à toa.

Em alguns pacientes, os sintomas diminuem com a idade. De 14% a 35% estarão curados aos 18 anos. A maioria conviverá com o distúrbio por toda a vida. É crônico como o diabetes, precisando tratá-lo todo o dia, na maior parte com medicação. Casos leves não precisarão de medicamentos, mas cerca de 80% vão. Nesses casos, o metilfenidato, composto de remédios como Ritalina, que é o único disponível no Brasil. Tecnicamente é um estimulante, mas o efeito é o oposto: aumenta a concentração e diminui a hiperatividade e impulsividade. Melhorando os índices de leitura, decréscimo do absenteísmo e da repetência escolar. Apesar dos benefícios, a Ritalina é polêmica. Talvez, por causa do crescimento das vendas do remédio.

Nos EUA, onde o TDAH é mais conhecido, o número de pacientes tratados chega a 60%.

A Ritalina pode causar efeitos colaterais, como: impotência, irritação gástrica e dor de cabeça. Além disso, é contra indicado para pacientes com arritmias cardíacas, tique motores, hipertensão e glaucoma.

Ele altera o organismo para que o cérebro funcione melhor. É como um par de óculos: corrige a maneira como a criança enxerga o mundo.

Para tratar os sintomas primários do TDAH, ou seja, hiperatividade, impulsividade e desatenção, a psicoterapia não tem muito efeito. Já a medicação resolve de imediato. A terapia pode ajudar e colaborar na aceitação do distúrbio, mas não irá curá-lo. Da mesma forma que se altere o ambiente para que um deficiente possa movimentar-se com mais facilidade, assim deve ser alterada a rotina do portador de TDAH. Significa, por exemplo, sentar na primeira carteira na escola e entregar cinco problemas de cada vez, no lugar de cinqüenta ao mesmo tempo. A taxa de herança genética é de 75%, uma das mais altas da psiquiatria, diz a geneticista Tatiana Alegre. Tanto que, 30% dos casos é preciso tratar também os pais.

O ambiente influencia apenas em torno de 25%. Entre os fatores ambientais associados ao TDAH, o fumo na gravidez é um dos principais, junto com hemorragias cerebrais e álcool.

Para os pais importa saber: meu filho vai ficar bem? A resposta, felizmente, é sim.


Seu filho tem TDAH?
Todos nós temos alguns desses sintomas, mas é a freqüência com que ocorrem que determina se há ou não um distúrbio. Se, além disso, são observados em mais de um ambiente – por exemplo, casa e escola – talvez seja bom procurar um médico.

Desatenção – seu filho:
• Não consegue prestar muita atenção a detalhes ou comete erros por descuido nos trabalhos da escola;
• Tem dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades de lazer;
• Parece não estar ouvindo quando se fala diretamente com ele;
• Não segue instruções até o fim e não termina deveres da escola, tarefas ou obrigações;
• Tem dificuldades para organizar tarefas e atividades;
• Evita, não gosta ou se envolve contra a vontade em tarefas que exigem esforço mental prolongado;
• Perde coisas necessárias para atividades, como brinquedos, deveres da escola, lápis ou livros;
• Distrai-se com estímulos externos;
• É esquecido em atividades do dia-a-dia.

Hiperatividade – seu filho:
• Mexe com as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira;
• Sai do lugar na sala de aula ou em outras situações em que se espera que fique sentado;
• Corre de um lado para outro ou sabe demais nas coisas em situações em que isso é inapropriado;
• Tem dificuldade em brincar ou envolver-se em atividades de lazer de forma calma;
• Não pára ou, frequentemente, está a mil por hora;
• Fala em excesso;
• Responde perguntas de forma precipitada antes delas terem sido terminadas;
• Tem dificuldade de esperar a sua vez;
• Interrompe os outros ou se intromete nas conversas ou jogos dos outros.

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