Herói ou não herói, o pai é sempre muito importante para o
filho. Gerar biologicamente é só começar a ser pai. Há uma grandeza maior no
modo de entrarmos para a vida. Nascemos uns aos outros, e nossa vida é
entrelaçada para sobreviver, aprender e crescer em todos os sentidos. Neste
contexto, o pai tem grandes tarefas. Existem culturas em que a figura do pai
biológico é bastante partilhada com outros homens do grupo, especialmente avós
e tios maternos. Assim, a necessidade que a criança tem do pai fica distribuída
entre mais pessoas.
Que necessidades tem a criança? Começam naturalmente pelo
básico da sobrevivência: alimentação, saúde, moradia e educação. Precisa de
afeto e segurança para crescer psíquica e espiritualmente. Precisa também de
uma espécie de modelo a ser atingido quando crescer. Em nossa cultura, essas
necessidades estão basicamente concentradas na responsabilidade do pai e da
mãe. Daí se falar em “pai herói”, “mãe heroína”.
Diante dessas exigências, muitos pais “dão o fora” da vida
do filho, parcial ou totalmente. Não havendo pessoas que supram de algum modo
essas necessidades, realmente o prejuízo para a criança é enorme. Por isso aos
pais distanciados a ética pede e insiste no interesse por seus filhos. Qualquer
época da vida é sempre tempo para curarem feridas e buscar aproximação.
O pai tem que ser perfeito? Obviamente não. Além disso, um
pai “muito perfeito” pode acabar abafando a vida do filho. O principal na
relação entre pai e filho não é a perfeição, mas o carinho, o bem querer. Com
isso, os limites do pai são assimilados de uma forma bem mais construtiva. E o
reconhecimento de erros se torna fonte de aprendizado. Nem o dinheiro, nem a
fama, nem muitos presentes substituem essa tarefa primeira do pai herói.
Mas filho se desenvolve ganhando ao poucos sua autonomia.
Essa deve ser a trajetória do seu crescimento. A tarefa dos pais é então educar
os filhos para saberem escolher, tomar decisões e se guiarem na vida. Dosar
autoridade com o aprendizado da autonomia não é uma tarefa fácil. Exige o
esforço de entender as razões da criança e do adolescente; e a partir dali
colocar outras razões para os limites.
Na medida em que vão ganhando a autonomia, chega a hora,
nem sempre é fácil, de os pais incentivarem este vôo próprio dos filhos. Este é
um lado. Mas o outro é curtir o sucesso dos filhos, onde os pais vêem coroado
seu esforço. E no coração guardam aquele sentimento sagrado de terem sido
“imagem e semelhança de Deus” para gerar no amor outro ser humano.
Pe Márcio Fabri dos
Anjos, C.Ss.R
Palavra de fé: “Mas a vossos filhos, mesmo os dentes das serpentes venenosas não os
puderam vencer, porque, sobrevindo a vossa misericórdia, curou-os”. (Sabedoria
16,10)
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