terça-feira, 17 de maio de 2011

A unidade do Amor na Criação e na História da Salvação

DO PAPA BENTO XVI

AOS BISPOS, PRESBPITEROS E DIÁCONOS, AS PESSOAS CONSAGRADAS E A TODOS OS FIÉIS LEIGOS.

Extraído da Encíclica Papal nº. 189 sobre “O amor Cristão”

“O amor de Deus por nós é questão fundamental para a vida e coloca questões decisivas sobre quem é Deus e quem somos nós. Embora o tema desta encíclica se concentre sobre a questão da compreensão e da prática do amor na Sagrada Escritura e na tradição da Igreja, não podemos prescindir pura e simplesmente do significado que esta palavra tem nas várias culturas e na linguagem atual. Fala-se se amor à pátria, amor à profissão, amor entre amigos, amor ao trabalho, amor entre pais e filhos, entre irmãos e familiares, amor ao próximo e amor a Deus. Porém, o amor entre o homem e a mulher, no qual concorrem indivisivelmente corpo e alma e se abre ao ser humano uma promessa de felicidade que parece irresistível. Surge então a questão: todas essas formas de amor, no fim das contas, unificam-se, sendo o amor, apesar de toda a diversidade das duas manifestações, em último, um só, ou, ao contrário, utilizamos uma mesma palavra para indicar realidades totalmente diferentes?

O amor entre o homem e a mulher, que não nasce da inteligência e da vontade, mas de certa forma impõem-se ao ser humano.

Entre o amor e o Divino existe certa relação: o amor promete infinita eternidade, uma realidade maior e totalmente diferente do dia-a-dia da nossa existência. O caminho para tal meta não consiste em deixar-se simplesmente subjugar pelo instinto. São necessários purificações e amadurecimentos, que passam também pela estrada da renúncia, em vista de sua verdadeira grandeza. Isso depende, primeiramente, da constituição do ser humano, que é composto de corpo e alma. O ser humano torna-se realmente, ele mesmo, quando o corpo e a alma se encontram em íntima unidade. Se o ser humano aspira a ser somente espírito e quer rejeitar a carne como uma herança apenas animalesca, então espírito e corpo perdem sua dignidade. E se ele, por outro lado, renega o espírito e, consequentemente, considera a matéria, o corpo como realidade exclusiva, perde, igualmente, a sua grandeza. Nem o espírito ama sozinho, nem o corpo: é o ser humano, a pessoa que ama como criatura unitária, de que fazem parte o corpo e a alma.

Somente quando ambos se fundem, verdadeiramente, numa unidade é que o ser humano se torna ele próprio plenamente.

Na verdade, encontramo-nos diante de uma degradação do corpo humano, que deixa de estar integrado no conjunto da liberdade da nossa existência, deixa de ser expressão viva da totalidade do nosso ser, acabando como que relegado ao campo puramente biológico.

Ao contrário, a fé cristã sempre considerou o ser humano como um ser individual, em que o espírito e matéria se compenetram mutuamente, experimentando ambos, precisamente dessa forma, uma nova nobreza, mas por isso requer um caminho de ascese (abertura da alma), renúncias, purificações e saneamentos.




O amor torna-se cuidado do outro e pelo outro. Já não se busca a si próprio, não se busca a imersão no inebriante da felicidade; procura-se ao invés, o bem do amado: torna-se renúncia, esta-se disposto ao sacrifício e até o procura. O amor visa a eternidade e para o reencontro de si mesmo, e mais ainda, para descoberta de Deus. Leiam: “Lucas 17,33; Mateus 10,39; Mateus 16,25; Marcos 8,35; Lucas 9,24; João 12,25”. Assim descreve Jesus, o seu caminho pessoal, que o conduz através da cruz à ressurreição.

No fundo, o “amor” é uma única realidade, embora com distintas dimensões; caso a caso, pode uma ou outra dimensão sobressair mais. Mas, quando as duas dimensões se separam completamente uma da outra, surge uma caricatura ou, de qualquer modo, uma forma redutiva de amor. E vimos, também, que a fé bíblica não constrói um mundo paralelo ou um mundo contraposto àquele fenômeno humano originário que é o amor, mas aceita o ser humano, por inteiro, intervindo na sua busca de amor para purificá-la, desviando-lhe ao mesmo tempo novas dimensões. Essa novidade da fé bíblica manifesta-se, sobretudo, em dois pontos que merecem ser sublinhadas: a imagem de Deus e a imagem do ser humano”.


Próximo resumo da Encíclica 189: A novidade da fé bíblica.



Palavra de fé: “A cada um é dada a manifestação do Espírito para proveito comum”. (1 Corintios 12,7)

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