quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Duas jóias preciosas

Do padre cisterciense Marcos Garcia, em Burgos, na Espanha: “Às vezes Deus retira uma determinada benção para que a pessoa possa compreendê-Lo, além dos favores e dos pedidos. Ele sabe até que ponto pode provar uma alma – e nunca vai além deste ponto. Nestes momentos, jamais podemos dizer ‘Deus me abandonou’. Ele jamais faz isto. Nós é que podemos, às vezes, abandoná-Lo. Se o Senhor nos coloca diante de uma grande prova, também sempre nos dá as graças suficientes – eu diria, mais que suficientes – para ultrapassá-la”.

A esse respeito, a leitora Camila Galvão Piva me envia uma interessante história, intitulada “As duas jóias”: Um rabino muito religioso vivia feliz com sua família – uma esposa admirável dois filhos queridos. Certa vez, por causa de seu trabalho, teve que se ausentar de casa por vários dias. Justamente quando estava fora, um grave acidente de carro matou os dois meninos.

Sozinha, a mãe sofreu em silêncio. Mas sendo uma mulher forte, sustentada pela fé e pela confiança em Deus, suportou o choque com dignidade e bravura. Entretanto, como dar ao esposo a triste notícia? Embora também sendo um homem de fé, ele já tinha sido internado por problemas cardíacos no passado, e a mulher temia que o conhecimento da tragédia acarretasse também a sua morte.

Restava apenas rezar para que Deus lhe aconselhasse a melhor maneira de agir. Na véspera da chegada do marido, orou muito – e recebeu a graça de uma resposta.

No dia seguinte, o rabino retornou ao lar, abraçou longamente a esposa e perguntou pelos filhos. A mulher disse que não se preocupasse com isso, tomasse seu banho, descansasse.

Horas depois os dois sentaram-se para almoçar. Ela lhe pediu detalhes sobre a viagem, ele contou tudo o que tinha vivido, falou sobre a misericórdia de Deus – mas tornou a perguntar pelos meninos.

A esposa, numa atitude, um tanto embaraçada, respondeu ao marido:

“- Deixe os filhos, depois nos preocupamos com eles. Primeiro quero que me ajude a resolver um problema que considero grave”.

O marido já preocupado, perguntou novamente:

“- O que aconteceu? Notei você abatida! Fale tudo o que lhe passa pela alma e tenho certeza que resolveremos juntos qualquer problema, com a ajuda de Deus”.

“- Enquanto você estava ausente, um amigo nosso visitou-me e deixou duas jóias de valor incalculável, para que as guardasse. São jóias muito preciosas! Jamais vi algo tão belo! Ele vem buscá-las e eu não estou disposta a devolvê-las, pois já me afeiçoei a elas. O que você me diz?”.

“- Ora mulher! Não estou entendendo o seu comportamento! Você nunca cultivou vaidades!”.

“É que nunca havia visto jóias assim! Não consigo aceitar a idéia de perdê-las para sempre!”.
E o rabino respondeu com firmeza e muita certeza:

“- Ninguém perde o que não possui. Retê-las equivaleria a roubo! Vamos devolvê-las, eu a ajudarei a superar a falta delas. Faremos isso juntos, hoje mesmo”.

“- Pois bem, meu querido, seja feito a sua vontade. O tesouro será devolvido. Na verdade, isso já foi feito. As jóias preciosas eram nossos filhos. Deus os confiou a nossa guarda e durante a sua viagem veio buscá-los. Eles se foram...”.

O rabino compreendeu na mesma hora. Abraçou a esposa e juntos derramaram muitas lágrimas – mas tinha entendido a mensagem e a partir daquele dia lutaram para superar juntos a perda.

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