quarta-feira, 2 de junho de 2010

Dia de Corpus Christie – 03 de junho

Reunir-se e caminhar com Cristo e adorá-lo


Qual é o significado próprio da solenidade de hoje, do Corpo e Sangue de Cristo? Antes de tudo, estamos reunidos em torno do altar do Senhor, para estarmos juntos em sua presença; em segundo lugar, acontecerá a procissão, isto é, o caminhar com o Senhor, e, por fim, o ajoelhar-se diante do Senhor, a adoração, que já começa na Missa e acompanha toda a procissão, mas culmina no momento final da benção eucarística.

O primeiro ato, portanto, é aquele de reunir-se na presença do Senhor. A Eucaristia não pode ser mais um fato privado, reservado a pessoas que se escolhem por afinidade ou amizade. A Eucaristia é um culto público, que não tem nada de esotérico, de exclusivo. Também aqui, neste momento não escolhemos nós com quem nos encontrarmos; viemos e nos encontramos um ao lado do outro, em comunidade de fé e chamados a nos tornarmos um único corpo, compartilhando o único Pão que é Cristo. Estamos unidos além de nossas diferenças de nacionalidade, de profissão, de classe social, de idéias políticas: abramo-nos uns aos outros para nos tornarmos uma só coisa a partir d’Ele. Esta, desde o início, foi uma característica do cristianismo realizada visivelmente em torno da Eucaristia, e é bom sempre velar para que as recorrentes tentações de particularismo, ainda que de boa fé, não vão, de fato, no sentido oposto. Portanto, o Corpus Domini nos recorda, antes de tudo, isto: que ser cristãos quer dizer reunir-se de todas as partes para estar na presença do único Senhor e se tornar n’Ele uma só coisa.

O segundo aspecto constitutivo é o caminhar com o Senhor. É a realidade manifestada da procissão, que viveremos juntos depois da Santa Missa, quase como seu natural prolongamento, movendo-se em seguimento d’Aquele que é Via, o Caminho, Com o dom de si mesmo na Eucaristia, o Senhor Jesus nos livra de nossas “paralisias”, faz-nos levantar e nos faz “proceder”, faz-nos dar um passo adiante, e depois outro passo, e assim nos coloca no caminho, com a força desse Pão da vida, como aconteceu com o profeta Elias, que estava refugiado no deserto por medo de seus inimigos, e tinha decidido de deixar-se morrer (cf. 1 Re 19,1-4). Mas Deus o despertou do sono e o fez encontrar ali do lado um pão recém-assado: “Levanta-te e coma – ele disse – porque bem longo é o caminho para ti” (1 Re 18 5,7). A procissão do Corpus Domini nos ensina que a Eucaristia quer nos livrar de todo abatimento e desconforto, quer nos fazer levantar, para que possamos empreender o caminho com a força que Deus nos dá mediante Jesus Cristo.

É a experiência do povo de Israel no êxodo do Egito, a longa peregrinação através do deserto (...) uma experiência que para Israel é constitutiva, mas se torna exemplar para toda a humanidade... A Eucaristia é o Sacramento do Deus que não nos deixa sozinhos no caminho, mas se põe ao nosso lado e nos indica a direção. Com efeito, não basta andar para a frente, é necessário ver para onde se vai! Não basta o “progresso”, se não existem critérios de referência. Dessa forma, se correr fora do caminho, arrisca-se a terminar em um precipício, ou, pelo menos, de distanciar-se mais rapidamente da meta. Deus nos criou livres, mas não nos deixou sozinhos: tornou-se Ele mesmo o “caminho” e veio caminhar junto conosco, para que nossa liberdade tenha também o critério para discernir o caminho justo e percorrê-lo.

E, neste ponto não se pode não pensar no início do “decálogo”, nos dez mandamentos, onde está escrito: “Eu sou o Senhor, teu Deus, que te fez sair do Egito, da condição de escravidão: não terás outros deuses além de mim” (Ex 20, 2-3). Encontramos aqui o sentido do terceiro elemento constitutivo do Corpus Domini: ajoelhar-se em adoração diante do Senhor. Adorar o Deus de Jesus Cristo, feito pão partido por amor, é o remédio mais válido e radical contra as idolatrias de ontem e de hoje. Ajoelhar-se diante da Eucaristia é profissão de liberdade: quem se inclina a Jesus não pode e não deve prostrar-se diante de nenhum poder terreno, por mais forte que seja.

Nós, cristãos, nos ajoelhamos somente diante do Santíssimo Sacramento, porque nele sabemos e cremos que está presente o único verdadeiro Deus, que criou o mundo e tanto o amou a ponto de dar Seu Filho unigênito (cf. Jo 3,16). Prostramo-nos diante de um Deus que primeiramente se inclinou até o homem, como Bom Samaritano, para socorrê-lo e restituir-lhe a vida, e se ajoelhou diante de nós para lavar nossos pés imundos. Adorar o Corpo de Cristo, que dá verdadeiro sentido à vida, ao imenso universo como à menor das criaturas, a toda a história humana como à mais breve existência.

A adoração é oração que prolonga a celebração e a comunhão eucarística e na qual a alma continua se nutrindo: nutre-se de amor, de verdade, de paz; nutre-se de esperança, porque Aquele diante de quem nos prostramos não nos julga, não nos fere, mas nos liberta e nos transforma. (trechos da homilia da Solenidade de Corpus Christi).

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