terça-feira, 1 de junho de 2010

Aprenda a perdoar

Se existe alguém que causou a você algum mal, tente perdoá-lo, até para seu próprio bem. “Perdoar resgata nossa dignidade e nos faz crescer, pois passamos a conhecer melhor a nós mesmos e aos outros”, afirma Dom Laurence Freeman, monge beneditino e diretor da Comunidade Mundial para a Prática de Meditação Cristã, sediada em Londres, que viaja por todo o mundo fazendo palestras sobre temas como oração, silêncio, atenção e amor.

Para Freeman, exercitar o perdão nos faz sair da condição de vítimas (dos outros ou das circunstâncias): “O que acontece com as pessoas que se sentem vítimas é que elas se tornam perseguidores em potencial, e assim, perpetuam a violência. Perdoando, abandonamos essa condição e esse sofrimento”.

O monge é autor dos livros O Dalai-Lama Fala de Jesus (Ed. Fisus), que revela o olhar do principal líder budista sobre a ação de Cristo, Prática Diária da Meditação Cristã e Luz que Vem de Dentro (ed. Paulus), em que frisa a importância da meditação como caminho para acalmar as emoções e atingir o estado de paz necessário para perdoar.

Acompanhe a visão de Freeman sobre o perdão e aprenda abaixo os passos básicos da meditação cristã, ensinada em igreja e grupos de oração católicos.


Observar a situação pelo ângulo do outro
“É o estágio em que exercemos a compaixão, tentando entender os motivos que levaram a pessoa a nos atacar. Não é preciso perguntar nada a ela diretamente. Mas vamos tentar nos colocar no mesmo estado de espírito que fez o outro a agir dessa forma. Mesmo que não surja nenhuma compreensão relevante, só essa atitude já vai nos levar a outro estado emocional, mais tranqüila”.


Expressar a raiva
“Na maioria das vezes o perdão não acontece de repente. No primeiro estágio, temos de ser honestos e admitir que podemos estar querendo até destruir o inimigo. É o momento, por exemplo, de colocar toda a raiva numa carta endereçada a quem odiamos – que, claro, nunca vamos colocar no correio. Mas ao menos pomos para fora o veneno da raiva, que intoxica nosso sangue, o que nos faz sentir melhor”.

Não-violência, início da transformação
“A não-violência significa não reagir violentamente quando nos sentimos feridos ou humilhados. Sempre que sofremos uma injustiça, primeiro sentimos o choque, depois a tristeza. Só daí acontece a segunda etapa, o despertar do ódio, da ira. Nesse espaço diminuto entre a tristeza e a raiva, temos uma oportunidade de transformação. Se escolhermos não passar para o estado de violência, aí começa verdadeiramente o processo de perdão, que será feito em etapas, até chegar ao estado mais elevado do perdão, o ‘amai vossos inimigos’, como afirmava Jesus”.

Etapa final: o perdão definitivo
“O tempo e a meditação – que nos leva a olhar para dentro de nós – são nossos grandes aliados na busca do perdão. Quando nos sentimos feridos e magoados, esse é o melhor momento para meditar. Ao descobrirmos que quem nos traiu é um ser humano como nós, podemos sentir verdadeira compaixão por essa pessoa. E um dia, sem mais nem menos, encontramos nosso inimigo e descobrimos que já não o odiamos mais”.

Meditação cristã
Para Dom Laurence Freeman, só podemos praticar o perdão quando nos interiorizamos – o que pode ser conseguido pela prática da meditação. “Quando meditamos, a mente se acalma e se integra ao coração. Descobrimos nossa verdadeira natureza interior, feita de paz, amor e alegria, e é ela que possibilita o perdão”, explica Freeman.

O monge divulga em todo mundo os princípios da meditação cristã, tal como foi criada nos mosteiros nos primeiros tempos do cristianismo. “Práticas contemplativas como a meditação são a base de várias religiões”, explica Freeman.

A meditação cristã proporciona o estado de relaxamento necessário para o nem sempre fácil exercício de perdoar. Pratique-a em lugar tranqüilo.

1. Sente-se em uma cadeira com a coluna alinhada, procurando relaxar.

2. Retraia ligeiramente o queixo, o que provocará uma leve inclinação da cabeça para frente.

3. Deixe os braços e as mãos relaxadas sobre as coxas.

4. Descontraia o corpo, eliminando pequenas tensões.

5. Sinta o silêncio. Mentalmente, repita sílabas ma-ra-na-ta, que significam “vinde ó Senhor!” em aramaico, a língua falada por Jesus. Essa é uma invocação para que Deus preencha seu coração.

6. Procure centrar seu pensamento nas palavras e volte a elas toda vez que estiver distraído. Comece meditando por cinco minutos e chegue até 20 minutos, pelo menos duas vezes por dia, ao levantar e ao dormir.

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