terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Jovens: Limites, por que não?


Uma das noções mais difíceis de se aprender, nos nossos tempos, é a de limite. Todos queremos, a partir de uma concepção errônea de liberdade, fazer o que bem entendemos, quando e como queremos.

Quando alguém nos cerceia, proíbe ou limita, nós reagimos. Ninguém aceita pacificamente qualquer tipo de limitação, porque limitar é o mesmo que dizer este é o seu espaço, para além dele é o espaço dos outros. E, num contexto em que cada um é livre para “fazer o que quiser”, essa lição é muito difícil.

O que se sabe da Psicologia é que os limites são os parâmetros necessários e indispensáveis para manter uma pessoa em pé. Eles são como balizas que vão delimitando o caminho a ser percorrido. Quando essas balizas não são colocadas, deparamos com pessoas que não sabem governar-se diante dos fatos. Assim, quem não aprendeu a lidar com os limites e as frustrações que deles decorrem, torna-se intransigente e insuportável nas suas demandas e exigências, o que dificulta muito a sua convivência com os outros.

Outra dificuldade é a falsa idéia de que devemos deixar nossos filhos viver aquilo que nós, os pais, não conseguimos viver. Porque fomos muito limitados, reprimidos, cobrados e proibidos, devemos agora permitir que os nossos filhos vivam com mais liberdade, sem tantas proibições. Ledo engano! Graças aos limites que nossos pais nos colocaram, hoje, podemos nos dizer sadios psiquicamente e equilibrados emocionalmente. Mal nos damos conta de que, não fossem aqueles “nãos” recebidos lá atrás, estaríamos sem rumo e sem direção em nossa vida atual.

Outro dia, ouvi de um pai esta afirmação: “Não quero que o meu filho passe pelas dificuldades que eu tive que passar. Por exemplo, eu tinha que tomar ônibus para ir à faculdade, voltar tarde, etc. O meu filho não precisa passar por isso, então coloquei o carro á disposição dele”. Esse pai pode ser condenado em sua atitude? Claro que ele está certo em não querer que o filho tenha as mesmas dificuldades. Nada mais justo e humano do que isso. O problema é que muitos pais simplesmente evitam as dificuldades para os filhos, sem mostrar a eles que também existem limites a serem observados.

Então respondi àquele pai: “Você fez bem. Só que também deveria ter dito a seu filho: Esse carro está ao seu uso. Porém, quero deixar bem claro que, se ele for usado de forma irresponsável, eu o recolho e você terá de se deslocar passando pelas mesmas dificuldades que eu passe”.

O que muda? Muda o fato de que pai colocou um limite para o filho. Esta é a linha divisória entre a liberdade do filho e a responsabilidade do pai. Detalhe que muitos não percebem. Enquanto tudo for fácil e “ilimitado”, não se aprende a dura lição da responsabilidade. E o que é pior: quando não há limites não existe a possibilidade da estruturação sadia da personalidade da pessoa. Ela cresce sem parâmetros para se guiar. É como se o mundo estivesse à sua disposição a qualquer momento. E nós sabemos que não é assim! A vida não é assim! A vida é um composto de liberdade e responsabilidade. A ausência de limites impede o uso da responsabilidade, o que me torna um sujeito invasivo, perverso e desrespeitoso.

Por fim, nunca é demais lembrar que, se não aprendermos a lidar com a frustração e com os limites quando o tempo é adequado para tal, teremos de aprende-lo, forçosamente, com a dureza da própria vida. O que é bem pior!


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