Em Jerusalém havia um professor de crianças chamado Zaqueu.
Um dia, disse ele a José: “O Senhor não vai mandar Jesus para a escola a fim de que ele se instrua?”.
José respondeu: “Naturalmente”, e foi falar do assunto com Santa Maria. Em seguida, os dois levaram Jesus ao mestre.
Este, vendo-o escreveu-lhe o alfabeto e lhe disse: “Diga alaph”.
Jesus disse: “Alaph”.
O mestre lhe disse: “Diga beth”.
O Senhor Jesus disse: “Explicai-me o termo alaph, que eu lhe direi beth”. O mestre quase quis bater nele.
Jesus disse-lhe: “O alaph é feito assim e assim. O beth de tal e tal maneira. Algumas letras são retas, outras deitadas. Outras, arredondadas, algumas com ponto, outras sem ponto. Esta letra aqui não vem antes das outras...”.
Em suma, explicou e pormenorizou coisas que o mestre nunca tinha ouvido e nem livro em livro algum.
Em seguida, o Senhor Jesus disse ao mestre: “Ouve-me, quer dizer...”, e começou a dizer, com voz distinta: “alaph, beth, gamal, dalad, até o thau”.
O mestre ficou admirado e disse: “Parece que este menino nasceu antes do tempo de Noé”. E voltando-se para José, disse-lhe: “O Senhor me trouxe o menino para que eu o instrua, mas ele é o mestre dos mestres”. E disse a Santa Maria: “Este vosso filho não precisa de professor”.
Entre os doutores do templo, encontrava-se um filósofo versado em Medicina. Ele interrogou Jesus: “Meu caro menino, você tem noções de medicina?”.
O Senhor Jesus lhe respondeu com uma dissertação sobre a física, a metafísica e a hipofísica. Sobre as virtudes dos corpos e dos temperamentos, sobre suas energias e suas influências nos nervos, nos ossos, nas veias, nas artérias e nos tendões. Sobre as propriedades do quente, do seco, do frio e do úmido, e sobre os seus efeitos. Sobre as operações da alma no corpo, sobre suas percepções e sua capacidade. Sobre a capacidade lógica, sobre os atos do apetite irascível e do apetite concupscível, sobre a composição e decomposição e sobre outras coisas que ultrapassam a capacidade de uma criatura.
O filósofo, tendo-se levantado, prostrou-se diante do Senhor Jesus e lhe disse: “Senhor, daqui por diante sou vosso discípulo e vosso servo”.
(Evangelho árabe da infância, 48, 1-3, século VIII)
Próximo e final: Milagres do menino Jesus.
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