segunda-feira, 12 de março de 2012

Depoimento: A escolha de Izilda

Há sete anos, precisei tomar a pior e mais difícil decisão da minha vida: escolher qual das minhas três filhas receberia meu rim. Elas sofriam de uma síndrome genética rara, a glomeruloesclerose focal, que impede os rins de funcionar como filtro do sangue e provoca o envelhecimento rápido do órgão até haver falência. Em 2001, o médico nos comunicou que elas precisariam de um novo rim. Só quem está à espera de um órgão sabe o que significa ficar na fila. Muitas vezes, a pessoa morre antes de encontrar um doador compatível. Poderia ser eu – o problema era como fazer a escolha. Impossível... Já nem dormia...

Anna Paula era a mais fragilizada: além dos efeitos colaterais provocados pelas três sessões semanais de hemodiálise, ela teve depressão, síndrome do pânico e várias crises de hemorragia, que resultaram numa anemia profunda. Sabia que precisava agir logo, mas não conseguia tomar uma decisão. Até que, na noite do Natal, com a família em volta da mesa, Anna Maria e Eva Cristina anunciaram: Anna Paula seria a beneficiada. Elas decidiram por mim. Nós nos beijamos e choramos juntas. O transplante aconteceu em fevereiro de 2005. Foram três horas de operação. Minhas filhas disseram que, ainda anestesiada, eu repetia: “Vocês três vão ser transplantadas. Vai dar tudo certo”.

A princípio, meu marido tinha sido descartado como doador, porque apresentava um problema na urina. Mas ele pediu para refazer o exame, insistindo que o resultado estava errado. Milagrosamente, deu tudo normal e ele conseguiu doar o rim. Eva foi a segunda a ser transplantada. Anna Maria também tinha uma doadora: uma prima distante do meu marido. Nós a reencontramos por acaso, em uma festa, e ela disse que sonhara com uma agulha no seu braço ligada ao de outra pessoa – por isso, queria fazer o exame de compatibilidade. Por incrível que pareça, deu 95%. Era como se ela fosse mãe das meninas. O transplante aconteceu em outubro. Aquela época, já tínhamos fundado a ONG Doe Vida para ajudar quem passa pela mesma situação. Só vence quem nunca deixa de acreditar!



Palavra de fé: “Aquele que ama, ama a vida; aqueles que velam para encontrá-la sentirão sua doçura”. (Eclesiástico 4,13)

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