quinta-feira, 29 de julho de 2010

Autismo, um silêncio que diz muito

Mais que uma doença, esta é a anomalia neurológica que se manifesta em crianças pequenas e as priva de capacidade de se comunicar com os outros.


Crianças recolhidas em si mesmas, alheias aos estímulos externos, que fazem uso de palavras e gestos repetidos: essas manifestações podem ser indício de autismo. A síndrome, que vem sendo estudada há mais de meio século e que, no Brasil, segundo estimativas, atinge 235 mil pessoas, das quais 15 mil apenas no Estado de São Paulo, pode ser definida por alterações presentes desde a mais tenra idade – em particular antes dos três anos de idade. Nesta fase de seu desenvolvimento, a criança autista já apresenta desvios qualitativos de comunicação, interação social e de uso da imaginação.

Durante muito tempo, julgou-se que o isolamento dos indivíduos autistas era consciente e intencional. Hoje, sabe-se que o autismo é uma anomalia mental que afeta, segundo estimativas, cinco de cada 10 mil crianças que nascem. Sua causa ainda não é conhecida. No entanto, há casos que podem ser relacionados à fenilcetonúria (carência hereditária de determinadas enzimas), à síndrome de X frágil (alteração cromossômica), à encefalite (infecção do cérebro e da medula) ou a uma infecção viral, como a rubéola congênita. Os estudos sobre gêmeos indicam que a perturbação pode, em parte, ser genética. Se um deles for autista, há grande probabilidade de o outro também vir a ser.

Ainda hoje não se conhece a cura para o problema. No entanto, está provado que um diagnóstico precoce contribui para uma significativa melhora. Assim, é possível aprimorar a qualidade de vida do autista e integrá-lo ao seu meio social, desde que se faça acompanhar por uma equipe de especialistas ainda na fase inicial do seu crescimento. Por isso, é muito importante que os pais tomem a iniciativa de relatar suas impressões ao médico.

Para endossar essa linha de conduta, um estudo sobre autismo recentemente desenvolvido pela Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, definiu parâmetros para uma avaliação precoce. Ele sugere que a medição do crânio dos bebês pode dar subsídios confiáveis para o diagnóstico de um quadro de autismo, uma vez que o cérebro do autista parece desenvolver-se anormalmente depressa, durante determinados períodos, nos primeiros anos de vida da criança.

Tratamento pode ser caro
Quando o médico é informado pelos pais sobre os sintomas detectados na criança, ele sugere então uma avaliação com uma equipe de especialistas. No caso de se confirmar o diagnóstico, o autista é em seguida encaminhado a um centro de apoio (veja abaixo), onde então tem início um tratamento que nem sempre é acessível a todos os bolsos, pois é especialmente concebido e desenvolvido para atender às necessidades deste tipo de paciente.

Além do próprio autista, seus pais também necessitam de orientação. Uma prática que pode ser de grande auxílio são as reuniões para troca de experiências pessoais.


Sintomas da doença
Se uma criança apresentar pelo menos metade destes sintomas, recomenda-se que passe pela avaliação de especialistas, pois estes podem ser indícios de que sofra da doença:

• Ausência de interação social: a criança tem dificuldades para conviver com os demais.

• Risadas desajustadas e fora de propósito.

• Resistência ao receber carinho ou expressão de afeto.

• Birras injustificadas.

• Pouco ou nenhuma interação visual: parece não perceber os outros.

• Repete palavras ou frases, em vez de formular frases (ecolalia).

• Comporta-se como se fosse surda.

• Aponta ou utiliza gestos em vez de palavras.

• Atitude desinteressada do meio.

• Gosta de fazer girar objetos.

• Não se adapta bem a alterações na rotina.

• Vincula-se a objetos de maneira desajustada e injustificada.

• Hiperatividade ou inatividade.

• Indiferença aos métodos normais de ensino.

• Desenvolvimento irregular das capacidades motoras (pode empilhar bem cubos, mas ter dificuldades para jogar bola).

• Aparente insensibilidade à dor.

• Não revela medo diante de perigos evidentes.

• Pode demonstrar auto-agressão.


Associações dão apoio
Em São Paulo, a Associação dos Amigos dos Autistas (Ama) conta com profissionais especializados que oferecem educação especial diária. A Ama atende em duas unidades: no Sítio Nova Esperança, localizado no bairro de Parelheiros, e no Centro de Reabilitação Infantil, que fica no bairro do Cambuci. Além da Escola Marysia Portinari, o Sítio Nova Esperança é formado por oficinas para jovens e adultos, onde os autistas são incentivados a desenvolver habilidades manuais e atividades profissionalizantes.

No Rio de Janeiro, o Centro de Desenvolvimento Humaitá e a Associação de Pais e Amigos de Portadores de Necessidades Especiais (Ames) também acolhem portadores de autismo.

Essas Associações oferecem ainda treinamento especializado a profissionais de instituições e pais de autistas.

- Associação Amigos dos Autistas (Ama)
R. Lavapés, 1123 – Cambuci – São Paulo (SP) – Tel. (11) 3272-8822
WWW.ama.org.br

- Associação de Pais e Amigos de Portadores de Necessidades Especiais (Ame)
R. Goiânia, 38 – Andaraí – Rio de Janeiro (RJ) – Tel. (21) 2278-3281

- Centro de Desenvolvimento Humaitá
R. Gen. Dionísio, 43 – Botafogo – Rio de Janeiro (RJ) – Tel. (21) 2558-3760

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