sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Bíblia: Perguntas que o povo faz

O que significam no Gênesis: a árvore, a maçã e a serpente?


Para essas respostas sobre o livro do “Gênesis”, baseamo-nos nas reflexões dos autores deste gênero literário. Gênero literário é o modo de apresentar um pensamento ou mensagem. O gênero literário usa certos recursos, certas técnicas (por exemplo, comparações, alegorias, imagens, etc) que possa, traduzir a melhor idéia que o autor quer transmitir.

Cada ciência, cada disciplina, tem seu gênero literário específico. “Conhecer o gênero literário de uma obra – diz Pe Bernoit – é ter nas mãos a chave que nos possibilita entendê-la”. Assim acontece na Bíblia, onde o gênero literário específico é religioso; e dentro desse gênero específico religioso, cada autor escolheu a forma que melhor lhe servia parta transmitir sua idéia.

O Gênesis usa muita simbologia, jogo de palavras. Emprega imagens do conhecimento do povo. Usa elementos tirados da cultura judaica religiosa, da Mesopotâmia, da Cananaica, etc.

Os elementos simbólicos presentes no relato: “Gênese 3,1-24”: a serpente, as árvores do jardim, o fruto das árvores, as folhas da figueira, o rumor dos passos de Deus, a hora da brisa, o esconder do homem, os diálogos (Deus e o homem, Deus e a serpente), as maldições (à serpente, à mulher, ao homem), as vestes para o casal, a expulsão do paraíso e os querubins (anjos) que guardam com espada desembainhada a entrada do paraíso.

O autor não quer explicar a origem do mal. Ele não sabe a origem, como nós também não sabemos. Sabe apenas como nós, que o mal existe.

Por que existe o mal? Por que não existe só o bem?

Religiões e culturas antigas procuram dar uma resposta, criando lendas religiosas, seus mitos “etiológicos”, isto é, histórias que explicavam a origem de alguma crença comum. Como fizeram os gregos, os romanos, os egípcios, os nossos índios. O autor constata com seu texto que há um mal de origem, ou como dizemos um “pecado original”.

Diante desta constatação, o autor ataca pela raiz o mal capital que existia no seu tempo, que seduzia e comprometia o povo: a tentação pelos ídolos. Depois de constatar isso, aponta a saída: lutar contra essa sedução do mal que está dentro de cada um, para retornarmos ao paraíso (uma terra sem maldade, justa e fraterna). Para transmitir essa reflexão, o autor usa uma história; a história é verdadeira: o mal existe e entrou no mundo através do homem. Os elementos para ilustrar essa história são simbólicos, isto é, são indicadores da verdade que ele quer transmitir. Vejamos alguns:

1. A árvore – são citados dois tipos de árvores: “a árvore do conhecimento do bem e do mal”. Confira em: “Gênese 3,5”. E a árvore da vida, leia: “Gênese 3,22”. Conforme o texto bíblico, o homem podia comer de todas as árvores, menos da árvore do conhecimento e do mal. Nesse dia morreria, veja em: “Gênese 2,16-17”. O que significa isto? “Comer de todas as árvores” é símbolo. Na Bíblia, a Sabedoria e a Lei de Deus são comparadas a uma árvore. Leia: “Provérbios 3,18”.

Ter sabedoria é ter vida; ela ensina os caminhos da vida. Já a Lei de Deus é chamada na Bíblia “lei da vida”. Assim, observar a Lei de Deus é viver, veja: “Salmo 118/119,93”. E mais, comprove: “Salmo 1,1-3”. Então se conclui, se o homem observar a Lei de Deus (praticar o bem) será feliz, viverá. Se não observar (praticar o mal) será infeliz, morrerá. Comprove: “Deuteronômio 30,15”; e ainda: “Deuteronômio 30,19-20”. Assim, se a Sabedoria e a Lei de Deus são comparadas na Bíblia, as árvores, “comer destas árvores” significa ter Sabedoria e observar a Lei de Deus = ser sábio, viver. Esse é o sentido da ordem de Deus, grave com atenção: “Gênese 2,16”.

Mas o homem não aceita facilmente o que Deus lhe ordena. Não crê na sua Palavra. Segue seus próprios critérios, deixando de lado a Sabedoria e a Lei de Deus. A esse comportamento amargo, a Bíblia chama “comer da árvore do bem e do mal”. Conclusão: não é preciso fazer experiência por si. Basta confiar e crer em Deus.

2. A maçã – não é mencionada nesse texto bíblico. O texto fala de “fruto”, vejam: “Gênese 3,3.6”. A citação da “maça” como fruto proibido do paraíso, vem das pinturas bíblicas clássicas, que traduzem a idéia da mitologia antiga, na qual a maça era símbolo de tentação. No Gênesis, o fruto ou a maçã, simbolizam a eterna tentação do homem em não querer conhecer-se como criatura diante de Deus, mas querer comportar-se por si mesmo.

3. As folhas da figueira e a nudez; o rumor dos passos de Deus e o esconder-se de Adão e Eva. Vejam: “Gênese 3,7-8”. Todos esses elementos ao mesmo quadro: a tomada de consciência, pelo homem, de uma burrada feita! Uma vez feita a experiência da desobediência contra Deus, o homem percebeu imediatamente o mal que acabara de praticar e, com medo, não quis olhar para Deus, não quis enfrentá-lo! Era preciso fugir dele!

Esse drama é descrito com imagens, com símbolos em: a nudez é tomada de consciência diante de Deus; ele está desarmado, envergonhado, desprevenido. Errou, tem que calar a boca.

As folhas da figueira - significam o medo do homem depois da trágica experiência: é preciso cobrir-se, ou seja, o erro foi percebido, descoberto e precisa ser escondido, ocultado. A reação é semelhante a pessoa que é surpreendida nua!

O rumor dos passos de Deus – o temor profundo do homem que errou: agora deve encontrar-se com Deus e dar-lhes satisfação por ter desobedecido à Lei Divina. O esconder-se de Deus é símbolo do homem que se reconhece pecador: “Gênese 3,8b.10”.

4. A serpente – personifica aqui a tentação. Personifica a nossa inclinação para o mal. Para o autor, a causa de todo o mal é o próprio homem que se deixa levar por essa tentação. O símbolo usado é a serpente. E por que a serpente?

No seu tempo a serpente era o símbolo da religião de Canaã, país que vivia também o povo de Deus. Essa religião não tinha compromissos éticos; era religião mágica, idólatra e praticava a prostituição “sagrada”. Leia e aprenda: “1 Reis 14,24”; “1 Reis 15,12”; “1 Reis 22,47”; “2 Reis 23,7”. A serpente era símbolo dessa religião porque representava, primeiramente, o órgão sexual masculino, reprodutor da vida, e depois, porque soltando periodicamente sua pele e renovando-se sempre, a serpente tornava-se símbolo da vida eterna. Esses elementos entraram na mitologia e no folclore oriental.

Outro elemento para explicação do texto: a serpente é símbolo do mal; traiçoeira, venenosa e mata.

O povo de Deus sempre sentiu a tentação de deixar sua religião de aliança comprometida com Deus para seguir a religião de Canaã, mas sedutora, sem compromissos, além de favorecer a prostituição – sob aparência de culto. Por isso, os profetas e os reis justos atacavam violentamente esse tipo de religião. Veja as citações: “Oséas 4,12.18; 6,10”; “Ezequiel 16,25.31.39”; “Isaías 1,21-23”; “Amós 4,1-3”.

A serpente tornou-se símbolo da traição a Deus e a fé; símbolo do todo mal.

A origem do mal está na escolha de ouvir a serpente e não a Deus.

Até hoje a tentação está sempre próxima do homem.


Palavra de fé: “Deus não é o autor da morte, a perdição dos vivos não lhe dá alegria alguma”. (Sabedoria 1,13).

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