Eis que uma mulher desceu das montanhas e disse a mim, José: “Homem, para onde vais?”
Respondi: “Procuro uma parteira de raça hebréia”.
- “És de Israel?”.
Respondi-lhe: “Sim”.
Continuou: “Quem é que está para dar à luz na gruta?”.
Respondi-lhe: “Minha noiva”.
Disse ela: “Não é tua mulher?”.
Disse-lhe: “É Maria, a que foi criada no Templo do Senhor e que me foi concedida por esposa. Mas ela não é minha mulher; foi do Espírito Santo que ela concebeu”.
A parteira perguntou: “É verdade?”.
E José respondeu: “Vem e vê”.
E a parteira seguiu com ele. Pararam no lugar da gruta e eis que uma nuvem de luz a envolvia. A parteira exclamou: “Hoje minha alma foi glorificada porque meus olhos viram prodígios: nasceu um Salvador para Israel”.
De repente a nuvem desapareceu da gruta e apareceu uma luz tão forte que os nossos olhos não podiam suportá-la. Depois, esta luz foi diminuindo lentamente até o momento em que o menino apareceu e tomou o seio de sua mãe Maria. A parteira exclamou: “Grande é este dia para mim porque ví assombrosa maravilha!”.
Saindo da gruta, a parteira encontrou Salomé e lhe disse: “Salomé, Salomé, preciso contar-te uma coisa maravilhosa: uma virgem deu à luz, contrariando a natureza”.
Salomé respondeu: “Tão certo como é que o Senhor vive, não acreditarei que uma virgem deu à luz, se não colocar o dedo e perscrutar sua natureza”.
A parteira voltou e disse a Maria: “Prepara-te, porque há uma questão grave a teu respeito”.
E Salomé, tendo perscrutado com o dedo a natureza de Maria, deu um grito e disse: “Infeliz de mim por causa de minha impiedade e de minha incredulidade! Tentei o Deus da vida! Eis que minha mão, como que ressequida pelo fogo, separa-se de mim!”.
Ajoelhou-se então diante do Todo Poderoso e disse: “Ó, Deus de meus pais, lembrai-vos que sou da descendência de Abraão, de Isaac e de Jacó! Não queirais expor minha vergonha diante dos filhos de Israel, mas fazei que eu volte a cuidar dos pobres, porque é em vosso nome que eu cuidava deles, como sabeis, e de vós eu recebia meu salário”.
Apareceu-lhe então um anjo do Senhor e disse-lhe: “Salomé, Salomé, o Senhor te ouviu. Estende a tua mão para o menino e toma-o em teus braços. Ele será a tua salvação e tua felicidade”.
Salomé aproximou-se, tomou o menino em seus braços, dizendo: “Prostrar-me-ei diante Dele, porque um grande rei nasceu em Israel”. E eis que, imediatamente, Salomé ficou curada e, justificada, saiu da gruta. E uma voz disse: “Salomé, Salomé, não divulgues esses prodígios enquanto o menino não entrar em Jerusalém”.
(Evangelho de Tiago, 19-20 – século II)
Próxima semana: Os Reis Magos.